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Entre Espelhos e Fumaça

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Mensagem por Leishuck Norris Qui Jun 04, 2015 2:58 pm


Youkais

"O mundo é um palco. E homens e mulheres, não mais que meros atores. Entram e saem de cena e durante a sua vida não fazem mais do que desempenhar alguns papéis."
(Shakespeare)

Entre Espelhos e Fumaça Rhythmblues

Tudo o que ela conseguia sentir era dor. A fumaça estava dificultando sua respiração e machucando seus olhos, a temperatura das chamas era tamanha que não fazia mais diferença se estavam sobre ela ou distante. A dor dos seus ossos quebrados, ferimentos abertos e órgãos machucados era tamanha que ela não conseguia pensar direito. Tudo era instinto, tudo era dor. Com dificuldade a razão abriu espaço em meio às camadas de sofrimentos dos mais diferentes tipos que estavam sobre sua mente. Tinha que sair dali. Fez um movimento com o braço, percebendo que ele estava numa posição que não deveria estar. E aquilo doeu, muito. O suficiente pra que tudo ficasse turvo, iria perder a consciência. Mas não podia, precisava escapar, sair dali. A fumaça aumentara, fazendo-a tossir. Algo mais saia junto com a tosse, tinha um sabor ferroso, mas ela não conseguia pensar naquilo. Não conseguia sair. Não tinha como se mover, algo estava prendendo-a ao chão, algo que ela sentia bater por dentro de sua costela ao tentar algum movimento. Era seu fim e não havia nada que ela pudesse fazer...

Em delírio, observou o que parecia uma jovem adolescente de preto, com maquiagem gótica. Ela caminhava entre as chamas, com um guarda-chuva, também preto. Mas havia alguém mais ali, saindo do meio das chamas. A garota também viu, olhando para o que quer que fosse. Ela não conseguia enxergar mais que um borrão no lugar do recém-chegado. Uma conversa desenvolveu-se entre o borrão e a garota. A garota deu de ombros e abrindo longas asas, desapareceu. O borrão aproximou-se. E aqueles segundos de delírio, rompeu-se, com a dor retornando e ela vendo-se novamente em meio aos escombros. Muita dor, mas dessa vez ela retornara mais lúcida, como se a dor não embotasse tanto os seus pensamentos – mas ainda forte o suficiente pra que não fosse esquecida.

— Você está morrendo. — havia um vulto negro sentado de frente à ela, uma mancha de escuridão que não deveria estar naquela luminosidade das chamas.

— Ajude-me... — ela pensou em mil coisas a dizer, mas ao falar, tudo que saiu foi o seu instinto mais básico, de sobrevivência.

— Eu posso salvá-la, mas isso vai requerer um preço. Está disposta a pagar esse preço?

— Por favor, ajude-me! — a dor começara a tornar-se mais forte. Após uma crise de tosse, em que ela sentiu que estava cuspindo sangue, ela abriu os olhos e viu a coisa lá, parada. E mesmo sem dizer nada, ela sabia o que a coisa estava esperando. Movida pelo instinto e pelo momento, apenas gritou. — Sim!

— Que assim seja. — falou a coisa e tudo escureceu, inclusive sua mente.

***

Quando ela acordou, o incêndio já tinha acabado. O concreto ainda quente soltava nuvens de fumaça em contato com a chuva que caía lentamente, deixando o ambiente enevoado. Ela levantou-se, estava intacta, exceto por suas roupas. Conseguiu remover com facilidade o bloco de concreto que estava por cima da sua perna, com uma força que não possuía antes. Ao longe, conseguiu ver as sirenes das autoridades, como corvos que não fizeram nada para impedir o incêndio e agora, pra prestar contas à sociedade, fariam a averiguação do lugar. E por que fariam algo? O lugar estava abandonado, tido como perigoso e só não fora destruído pela prefeitura antes porque estava abrigando pessoas sem teto. E a prefeitura os preferia concentrado ali que nas suas ruas, por mais que as pessoas reclamassem da situação.

“Cuidado.”

Um sussurro mental, uma voz familiar, mas aliada a uma audição boa que a fez ouvir passos em meio aos escombros. Em um silêncio e uma velocidade que não imaginava possuir, ela ocultou-se atrás de um bloco de concreto. Passos. Mesmo ouvindo-os bem, tinha se perguntado se os teria percebido se não fosse o aviso. Mas quem avisou? E por que a voz era familiar? Suas indagações foram interrompidas por vozes.

— Capitão, os homens estão apenas esperando as ordens para vasculhar o lugar.

— Contenha-os um pouco mais, diga que a equipe especial está fazendo a análise da segurança do lugar. E mande os outros agilizarem, temos de encontrar o que o Sr. Sousuke deseja.

“Vista-se”. Novamente a voz, e de alguma forma ela sabia ao que se referia. Havia um conhecimento que parecia estar sempre ali, mas que de alguma forma ela esquecera. Sombras surgiram em forma de borboletas, envolvendo seu corpo e tornando-se um quimono vermelho. Fascinada pelo que acabara de fazer, ela deu um passo em falso, que acabou esbarrando em uma pedra solta. O som de engatilhar de armas foi ouvido.

— Deve ser apenas um rato, senhor.

— Nossas ordens são claras. Sem sobreviventes.

Ouvindo aquelas palavras, ela sentiu raiva. Seu raciocínio estava límpido, claro, de uma forma que nunca estivera antes. Como se alguém limpasse as lentes de um óculos sujo. “Sem sobreviventes”. O incêndio tinha sido proposital. Cerrando os punhos, ela lembrou-se de todos que viviam ali, pessoas sem oportunidades. Muitas prejudicadas por seus antigos empregadores que as deixaram numa situação tão difícil que perderam seu lar. Assim como seu pai, assim como sua mãe e seus irmãos... Que ela perdera ali. Ouvindo alguém mover-se atrás dela, percebeu que perdida em suas emoções e em seus pensamentos, os dois homens a tinham descoberto. Ambos estavam com as armas apontadas para ela. Silenciadores, pra evitar tumulto.

“Esquive.” Os tiros atingiram o concreto, pra surpresa dos homens. “Transforme-se.” Novamente, um conhecimento que ela não lembrava até que a voz a citasse. Sua aparência alterou, fazendo surgir garras no lugar das unhas e chifres em sua cabeça. Ela estava com o que parecia ser uma máscara. Os dois homens estavam surpresos ao ver a garota naquela forma, removendo a máscara, ela o observou. Queria que os dois prestassem bem atenção em quem estava os matando. “Ataque.”. A voz nem precisava pronunciar-se, ela já sabia exatamente o que fazer. Borboletas de sombra surgiram por trás dela, enquanto ela avançava na direção dos dois homens...


Todos nós crescemos ouvindo mitos e lendas. Hoje em dia, nosso primeiro contato com essas histórias geralmente se dá numa forma um tanto alegre, “para crianças”. Os seres sobrenaturais bonzinhos auxiliam e abençoam os heróis, para que eles consigam superar seus desafios, e as maldições dos seres sobrenaturais malignos, no fim das contas, não dão em nada. E todos vivem felizes para sempre.

Mas, quando começamos a procurar os mitos mais antigos, em sua forma original, a coisa muda. Sexo e violência se insinuam nos contos. As pessoas têm destinos terríveis. Essas histórias eram contadas às crianças, não para acalmá-las na hora de dormir, e sim como contos admonitórios. Eram avisos para não se afastar demais de casa. Para não entrar nas florestas escuras. Não andar pela estrada à noite. Fique em casa, seja bonzinho, olhe os modos... ou então algo ruim vai lhe acontecer. Eles podem aparecer e levarem você embora.

Youkais – Smoke and Mirrors é um jogo que trata do que acontece quando essas histórias antigas se mostram verdadeiras. Os Kamis, seres míticos de grande poder, realmente aparecem e levam as pessoas embora, mantendo-as como escravas no Makai, uma terra de magia que é mais pesadelo que sonho. Apartados do Nigenkai, o mundo humano, essas pessoas raptadas vão aos poucos se tornando cada vez mais semelhantes a seus captores, perdendo-se em suas novas vidas. Mas alguns desses cativos lembram-se de quem são e tentam escapar, tentam voltar para o lugar onde nasceram. Alterados na forma e na aparência, marcados por sua temporada no cárcere, alguns deles até conseguem retornar.

Um Jogo de Espelhos e Fumaça

Os protagonistas destes mitos contemporâneo são os youkais ou, como eles costumam se referir a si mesmos atualmente, os Darkstalkers. Arrebatados de suas vidas humanas quando crianças ou adultos, eles passaram, aparentemente, anos ou até mesmo séculos no Makai, escravos de senhores e senhoras deslumbrantes, porém inumanos. Alimentados com a comida e a bebida místicas, eles mesmos foram se transformando em youkais, e seus corpos mudaram ligeiramente para refletir suas funções. Alguns, contudo, conseguiram escapar. Apegando-se às lembranças de casa, eles abriram caminho pela ferina névoa do Senkaimon, a barreira entre o mundo humano e a distorção temporal do Makai.

Contudo, seu retorno foi absolutamente agridoce. Alguns deles voltaram vinte anos depois de terem sumido, apesar de, para eles, aparentemente não ter se passado tanto tempo no Makai. Outros, que chegaram à idade adulta no Makai, descobriram-se de volta apenas algumas horas depois de seu rapto. E quase todos descobriram, para seu horror, que ninguém sentiu falta deles. Os Kamis foram meticulosos. Deixaram no lugar de cada youkai raptado uma réplica, um simulacro, uma coisa que, apesar de se parecer com ele ou ela, não era ele ou ela. Agora, com espantalhos inumanos vivendo suas vidas, sem ter para onde ir, os Darkstalkers precisam encontrar seu próprio caminho no mundo que lhes foi roubado.

Youkai trata dos sonhos e esforços de pessoas que já não mais o que foram um dia, pois sua carne mortal foi entretecida com a magia do Makai. Uma ilusão, chamada de Taishitsu, oculta seus corpos físicos remodelados, permitindo-lhes passar por seres humanos, um termo que não se aplica mais a eles. O contraste entre a realidade do Nigenkai e a irrealidade do Makai dá cor a suas histórias de maneira que geralmente se expressam como a beleza, a loucura ou as duas coisas.

A beleza a que nos referimos quase fica subentendida. O Makai é lindo. Não é gentil, nem acolhedor, nem benevolente, mas é de uma beleza deslumbrante. E pode-se dizer o mesmo de seus filhos, tanto aqueles que nasceram de sua matéria irreal quanto os mortais raptados e alimentados com sua magia. Até mesmo os traços assimétricos de um Oni medonho podem ser uma estranha obra de arte em esboço. Até mesmo um Yuurei de semblante pertubador pode exibir uma graça de elegância hipnótica ou uma sexualidade fria e franca. Mas, circulando pelo Nigenkai, tentando recuperar suas antigas vidas ou colher Chi suficiente para sustentá-los, os Darkstalkers começam a perder as coisas belas às quais os mortais geralmente deixam de dar valor. Para um youkai há beleza no pesar que paira sobre o funeral de um homem decente, ou na maneira acanhada com que uma adolescente torce as mãos durante o baile da escola. Eles enxergam coisas que ninguém mais vê, não só porque têm essa capacidade, mas também porque se esforçam para isso.

A loucura inerente à existência de um youkai também tem dois lados. Parte dela é externa. É mito comum os youkais encontrarem coisas do Makai e do Senkaimon: coisas estranhas e arrepiantes que não deveriam existir, que desafiam a racionalidade humana. Até mesmo os Kamis só podem ser descritos como “loucos”, pois certamente não concordam com nenhuma definição de sanidade fornecida pelos mortais. O limiar entre o sonho e a realidade, entre Makai e Nigenkai, é fácil de atravessar... E um youkai nem sempre sabe de que lado desse limiar se encontra.

Tema

O tema predominante de Youkai é a busca pelo caminho de volta para casa. Para alguns, pode ser que isso implique retomar, da melhor maneira possível, as vidas mortais que lhes foram roubadas. Para outros, significa um novo lar entre os Teikoku e as Kyuutei. Alguns esperam ter boa sorte e determinação suficientes para conseguir as duas coisas, para se formar na sociedade humana e na sociedade youkai. Até mesmo os emaranhados de intriga e ambição que enredam muitos Teikoku têm origem nos youkais determinados a encontrar um caminho que os leve para um lugar que estejam dispostos a chamar de “lar”. Não é uma viagem simples, e as histórias de cada crônica se desenrolam em torno dos desafios dessa estrada. Em quem se pode confiar? O que você deseja do fundo do coração, qual é o seu ideal de lar? E qual preço está disposto a pagar para conseguir o que quer?

O tema secundário do jogo reflete a natureza dos youkais. Um distintivo comum das lendas protagonizadas por seres sobrenaturais é um certo tema de engodo ou desonestidade. Em algumas histórias, os youkais enganam os mortais, apresentando-se como aquilo que não são, substituindo as crianças humanas por seus próprios rebentos, ou levando viajantes a se perder. Em outras, são os seres humanos que infringem uma espécie de contrato social com os youkais – em geral, sem saber que há um contrato em vigor – e sua “deslealdade” é punida severamente pelos youkais. O engodo e a desconfiança perpassam muitas lendas de Youkais, pois os Darkstalkers são obrigados a se esconder dos amigos e parentes para não atrair a atenção de seus inimigos. Votos e promessas formam a argamassa que une os youkais, o único modo dos Darkstalkers saberem em quem confiar e quem evitar. O maior poder dos youkais está em usar de artimanhas para alcançar algum tipo de posição vantajosa em relação aos inimigos, e seu maior constrangimento é ter de empenhar a palavra. Nisso, eles são muito semelhantes às criaturas lendárias das lendas, e os “mitos” de suas vidas têm um refrão obsessivamente familiar.

Tom

O tom de uma crônica de Youkai pode mudar muitas vezes, refletindo a natureza volúvel dos youkais. No entanto, o tom predominante é agridoce. Os Darkstalkers percorrem um mundo invisível de deslumbramento, com um quê de perigo e fraude. A beleza dos youkais costuma ser sinistra. O Senkaimon é fascinante e oferece tanto auxílio quanto perigo. A magia operada pelos youkais é uma coisa maravilhosa, mas tem seus estranhos preços e poréns. E, mesmo assim, apesar de todo o medo dos Kamis, da paranoia da traição e da mágoa por terem de mentir, os Darkstalkers ainda sentem a glória das emoções intensas e enxergam as cores vívidas da magia do Makai. Tanto a amargura quanto a doçura são essenciais nesse mundo. Sem a amargura, os youkais são coisinhas débeis, tão fracas e diluídas quanto as fábulas vitorianas criadas para proteger as crianças de tudo que pudesse sugerir um mundo menos que perfeito. Sem a doçura, o cenário é um lugar mirrado e sem valor, mais semelhante a uma visão niilista e mal-humorada do universo do que àquilo que realmente é. Apesar de todo o horror, também há o deslumbramento. Apesar de toda a beleza, também existe a loucura.

Entre Dois Mundos

Os Darkstalkers podem ser praticamente qualquer coisa. Suas raízes humanas são fortes o bastante para lhes mostrar o caminho de volta, do Makai para casa; e alguns youkais, ao retornar, fazem o possível para se integrar ao mundo dos mortais. Para alguns, a possibilidade de recuperar suas antigas vidas ou reunir-se novamente com seus entes queridos é a maior das aspirações. Outros abrem mão de suas identidades anteriores e criam para si vidas mortais inteiramente novas, seguindo carreiras nas quais eles podem se dar bem, sem chamar muita atenção. Podem se tornar negociantes de arte, proprietários de casas noturnas, chefões do crime. E os Darkstalkers conseguem usar seus dons sobrenaturais para proteger as pessoas importantes em suas novas vidas, tirando proveito máximo de sua transformação.

Mas os youkais, indubitalvemente, não são mais o que costumavam ser, e muitos abraçam a mudança da melhor maneira possível. Ostentam as marcas de seu cativeiro com orgulho, fortalecem seu Hanchuu, seu poder sobrenatural, e concentram-se em suas identidades como cidadãos da sociedade dos Darkstalkers. Para esses sobreviventes orgulhosos, o Nigenkai é onde eles brincam de mortais e reúnem forças. Sentem-se mais à vontade em meio aos Teikoku e às Kyuutei e selam pactos de amizade e amor extremos com outros youkais.

Nenhum desses dois estilos de vida é superior ao outro. Para manter uma visão clara entre a solidez mortal e a loucura onírica dos youkais, os Darkstalkers têm de reconhecer os dois lados de sua natureza. Os Kumi se formam por amizade e seus membros juram ajudar uns aos outros a reconstruir suas vidas como mortais, da mesma maneira que prometem amparar uns aos outros e obter posição, poder e segurança na sociedade dos youkais. Como e por que farão isso, as vidas que irão criar ou recriar para si mesmos, essas são as histórias que irão se desenrolar em Youkais – Smoke and Mirrors.

Leishuck Norris
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