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Projeto Ragnarock - Destinos

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Mensagem por Leishmaniose Seg Fev 14, 2011 2:24 am

Olá,

Esse é um conto escrito para o livro Ragnarock. Denominado primeiramente como Tríade, o netbook conseguiu destaque na Editora Daemon e passou por uma revisão grande, mudando até mesmo o nome para Ragnarock. O Guaxinim vendo que o lançamento ainda seria adiado por algum tempo devido a motivos editoriais, conseguiu uma brecha em uma outra editora e o pessoal da Daemon entregou todo o material revisado a ele. Eu escrevi esse conto de presente pro Guaxi como uma forma de colaborar com o material dele. Ele gostou bastante a ponto de resolver colocá-lo como conto introdutório no livro. Espero que um dia ele consiga publicar esse material.

Em Destinos, eu já não mantinha mais a minha agilidade narrativa demonstrada em Cristal de Tenebra. Eu buscava escrever de forma que se tornasse um conto compreensível tanto para quem conhecia o cenário, quanto para os leigos. E por isso as descrições tomam um destaque bem maior que os diálogos. Apesar dos vários erros de português (que o pessoal da Daemon corrigiu na revisão – e eu não pedi a versão corrigida, e só vou revisar quando tiver um mega-tempo-extra... Porque eu sei que vou acabar reescrevendo partes, editando outras...), esse é um dos meus “contos terminados” favoritos.

P.s.: O conto utilizou material do netbook "Poderes da Mente" do Flávio Araújo e todo o ocorrido foi com "base" nas regras do netbook e do material do Guaxinim.

Bonanças.

Atenciosamente,
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Mensagem por Leishmaniose Seg Fev 14, 2011 2:33 am



Luna-3, um enorme complexo de metal que se localiza sobre as ruínas da potência que já foi os Estados Unidos. Pilares com cerca de 10 quilômetros de altura separam o complexo do chão onde se localiza a área devastada pela Guerra acontecida anos antes. Pois, em 2078, cinqüenta e dois anos antes da época atual, ocorreu o evento que muitos denominavam apenas como Apocalipse. Demônios e Anjos enfrentaram sua tão esperada guerra celestial, tão prevista e anunciada pelos profetas e visionários. Mas, acontecimentos adiaram o fim do Apocalipse, a conclusão final dessa guerra não aconteceu. Mas depois do início dela, o mundo nunca mais foi o mesmo. A Terra encontrava-se devastada e era conhecida pelos habitantes de Luna-3 apenas como Sub-mundo. A luta pela sobrevivência tornou-se algo muito mais difícil, pois a teoria de Charles Darwin estava em seu auge completo. Somente o mais adaptado sobrevivia. Tentando fugir desse caos, muitos tentavam chegar ao Paraíso que foi construído pela tecnologia de ponta. Muitos tentavam lugar em Luna-3. Para impedir invasões, seu exterior era revestido da mais avançada tecnologia bélica da Terra. E um grande contingente de humanos residia de forma vitalícia nessa área conhecida como “Muro” ou apenas Área de Proteção. Apenas uma vez por ano, os protetores de Luna possuíam a chance de retirar uma folga e ir à Área Residencial, visitar seus familiares e amigos.

Era na Área Residencial que habitavam os privilegiados de Luna-3. Todos aqueles que tinham condições de pagar sua hospedagem na cidade, sempre seria bem-vindo a ela. E dessa forma, somente os mais ricos poderiam viver e era contra isso que muitos do Sub-mundo lutavam contra Luna. Muitos defendiam que todos deveriam ter o direito de viver em Luna, independente de suas condições financeiras. A Área Residencial fora projetada de forma simétrica, a ponto de nunca possuir uma elevação ou diferença nos estilos das construções. Tudo foi construído de forma padronizada, para que ficasse compatível com a harmonia desejada pelos idealizadores de Luna-3. Um mundo praticamente perfeito. As pessoas de Luna também dispunham de uma realidade virtual, na qual podiam vivenciar o período de auge da civilização humana e outros períodos. Devido a esse mundo virtual, poucas são as pessoas que saem de suas casas no mundo real. Elas podem fazer pedidos via telefone, que são entregues em suas casas. Alguns dos pedidos são realizados no próprio mundo virtual. As ruas são ocupadas geralmente pelos robôs que entregam as compras ou por um ou dois policiais, que fazem a ronda tentando manter a paz e tranqüilidade no local. Pessoas comuns andando pelas ruas, seja a pé ou de carro, é que são realmente coisas raras e incomuns de se verem. Por isso aquele grupo de dez pessoas caminhando pareciam tão deslocadas.

Podia-se ver claramente que não eram dali, já que tinham um aspecto diferente do pessoal de Luna. Tinham uma constituição física mais robusta e sadia em relação à grande maioria dos habitantes da Área Residencial, que por tanto possuírem hábitos sedentários, acabavam adquirindo um excesso de peso. A taxa de obesidade em Luna era consideravelmente grande. Com exceção dos policiais, havia pouquíssimos habitantes da área residencial que não estava acima de seu peso. Já que no mundo virtual poderiam ter a aparência que quisessem... O grupo de pessoas que caminhavam era composto por seis homens e quatro mulheres, com faixa etária média de 25 anos. Sendo que uma das garotas apresentava idade similar aos 20 anos, enquanto dois dos homens tinham cerca de 35 anos de idade.

— Férias... — suspirou desanimada, justamente a garota mais nova.

— Parece que não está gostando, Sarah... — falou uma das garotas.

— Não é isso, Andréia. — respondeu Sarah um pouco desconcertada ao ver que seu murmuro havia chamado atenção demais. — É que eu acho que nós poderíamos estar fazendo algo mais útil... Sinto-me uma inútil aqui, fora do Muro. E se houver um ataque enquanto estivermos de férias?

— Eles sobreviverão, Sarah... Não se preocupe... — falou um dos homens.

— Mas, senhor... é vitalício que nossa prioridade seja a defesa de Luna. — replicou Sarah.

— Você realmente está precisando de férias, Sarah... — falou outra das garotas.

— Desse jeito, você vai ficar igual ao Donovan. — falou um dos jovens em tom sarcástico.

— Donovan? — perguntou Sarah, sem entender a observação do colega. — Não entendi, Gustavo.

— Aquele calado que vem aí atrás, um pouco afastado do grupo e com olhar sério. — respondeu um dos homens. — Aliás, como conseguiu fazê-lo tirar férias, Estevão?

— Eu não consegui. — respondeu um jovem. — Eu já tinha desistido faz um bom tempo. Só fiquei sabendo que ele tava tirando férias quando vi o nome dele na lista do pessoal desse mês.

— Quem sabe ele relaxa um pouco mais e fica mais simpático... — falou uma das garotas.

— Vai sonhando, Luana... — falou Gustavo.

— Vocês não possuem assunto melhor para discutirem não? — perguntou Donovan, com um tom sério na voz.

— Calma, espartano! — falou um dos jovens. — Lembre-se que férias são para relaxar. Relaxar!

— Donovan já esqueceu o significado dessa palavra. Desde o acidente. — falou Estevão dando uma tapinha nas costas de Donovan.

— Que acidente? — perguntou Sarah.

— Ah, é... A Sarah é novata no nosso setor. — respondeu Andréia. — Ela não sabe nada sobre o Donovan. Por isso está tão interessada...

— Nosso amigo aqui é um dos poucos que fez um pouso forçado no Sub-mundo e retornou vivo ao complexo. — falou Gustavo.

— Sério? — perguntou Sarah, perplexa.

— Vocês parecem duas garotas da Área Residencial fofocando da vida dos outros. Tem outro assunto melhor não? — perguntou Donovan, visivelmente aborrecido.

— Relaxa, irmãozinho. Não é com tom pejorativo que falamos disso. — falou Andréia.

— Andréia está certa, Donovan. Você é referência como soldado do Muro, é tido como herói por muitos. Muitos queriam ter feito o mesmo que você fez. — falou um dos homens.

— Humph! — bufou Donovan. — Grande herói…

Donovan começou a afastar-se do grupo, seguindo por uma rua transversal. Estava visivelmente incomodado pela conversa e achou melhor retirar-se, afinal viera a Área Residencial por um motivo...

— Ei, para onde você vai? — perguntou um dos jovens vendo-o se afastar.

— Por aí. — falou Donovan sem voltar-se.

— Esquece, Fernando. Vamos indo... — falou Andréia.

— Ô Herói! — falou Estevão. — A gente vai dar uma passada no McLuna e de lá vamos ao Shopping fazer umas compras, ok? Qualquer coisa a gente se vê no hotel!

Donovan apenas fez um gesto com a mão, estava longe demais para que eles ouvissem sua voz no tom normal. Mas conhecendo Donovan devido ao convívio com ele no Muro, boa parte do grupo já sabia da resposta dele:

— A gente se vê no hotel.

O grupo, com uma pessoa a menos agora, continuou seguindo em frente pela calçada de uma das avenidas centrais do setor leste da Área Residencial. Donovan continuou seguindo pelo caminho escolhido por ele, não tinha um destino certo, por isso qualquer lugar para onde fosse já estaria bom. Desde que pudesse ficar sozinho com seus pensamentos, suas dúvidas. Embora tenha retornado a dois anos do Sub-mundo, suas lembranças ainda permaneciam vivas em sua mente e por isso, algo o levava a duvidar. Emergindo de seus pensamentos, Donovan viu-se chegar a uma praça. Uma das poucas praças existentes em Luna. Mesmo bastante ornamentada, para parecer-se com uma praça do mundo antigo, ela estava vazia, assim como as ruas. Poucas pessoas praticavam exercícios ou saíam para ver um pouco do mundo real em Luna. Nas ruas apenas circulavam alguns robôs entregadores. Aquela praça era perfeita, assim como Luna, mas por ser perfeita demais ela trazia uma sensação de vazio, de falsa. Suspirando profundamente, Donovan sentou-se num banco.

— O que espera encontrar aqui? — perguntou-lhe uma voz.

Donovan olhou levemente para o lado, onde havia um jovem sentado ao seu lado no banco. O jovem era translúcido, com um tom levemente azulado. Voltando o olhar para a praça, Donovan respondeu após um determinado tempo em silêncio:

— Você sabe muito bem.

— Assim como também sei que não vai encontrar a resposta que quer, e sim, ter de aceitar seu destino. — disse o jovem translúcido com uma voz calma e profunda. — Você foi arrancado da caverna, garoto. Tentar voltar para ela apenas vai lhe causar mais incômodo. Aceite isso.

— A Caverna de Platão... — murmurou Donovan. — Nunca pensei por esse lado.

— E por isso continua nessa infrutífera busca. — vendo Donovan manter-se em silêncio, sem responder. O jovem apenas concluiu. — Garoto, pense nisso...

O jovem começou a desaparecer levemente até sumir por completo, deixando o jovem imerso em seus pensamentos. Vendo que o amigo fora embora, Donovan apenas respondeu:

— Pensarei, Guaxinim. Eu pensarei...

As lembranças do Sub-mundo retornaram, elas teimavam em não abandonar sua mente. Donovan, às vezes se perguntava, se era seu coração que lhe fazia uma imposição trazendo aquelas memórias à sua mente. O seu espírito não sentia mais conforto como quando sentia antes do acidente, quando acreditava em Luna e lutava pelo que acreditava. Quando Luna era algo realmente perfeito, nobre e honrada para ele. Mas, após o acidente, após viver cinco anos no Sub-mundo, após conhecer a luta pela sobrevivência contra as crueldades de muitos soldados de Luna, entre eles, os chamados Paladinos de Metais. A luta por muitos que mereciam habitar no complexo e não o fazerem por não terem condições financeiras para comprarem sua entrada. Os habitantes de Luna foram selecionados não pelo seu caráter e sua honra, mas pelo seu dinheiro. Nem mesmo a pureza genética é total em Luna. Sempre ouvira que alguns habitantes de Luna não eram totalmente humanos, nunca acreditara, pois havia ouvido antes do acidente. Mas após o acidente, ele também questionava se esse boato não era verdadeiro. Até seu retorno foi barrado, tendo ele tentando entrar em contato com seus superiores do Muro para conseguir sua reentrada. Se não fosse por um amigo, alguém que ele conseguiu ver que era muito mais seu amigo do que qualquer pessoa em Luna já fora, ele não teria retornado. Seus olhos começaram a ficar marejados. Lembrou-se da morte de seu amigo atacado por um soldado, após eles entrarem na cidade com dinheiro suficiente para comprarem sua reentrada. Dinheiro ganho honestamente. E ele não pôde fazer nada...

Conhecera a verdadeira honra, lealdade, amizade e caráter fora de Luna. Sentiu na carne a luta pela sobrevivência e a crueldade que há lá fora, grande parte vindo de agentes de Luna que executam “faxinas” no Sub-mundo. Como ele podia viver em Luna depois disso? Será que tudo pelo que ele viveu havia sido uma mentira? Não podia acreditar nisso... Por isso tirara umas férias, queria encontrar algo na Área Residencial que acabasse com suas dúvidas, seja um motivo para lutar por Luna, ou contra ela.

— Oi.

Donovan ergueu o olhar. Era Sarah. Imerso em seus pensamentos ele não notara a aproximação dela, em algumas situações isso poderia indicar o fim de sua carreira, embora algumas variáveis como Guaxinim provassem que não... Sem responder ao cumprimento, ele apenas olhou de forma indagadora para a jovem, que sentou-se ao seu lado no banco.

— É que você passou tanto tempo fora de Luna que pode ter se esquecido da localização do McLuna e do Shopping, podendo se perder em Luna. — explicou-se Sarah. — Por isso eu pensei que você podia estar perdido e precisar de uma ajuda...

Donovan olhou fundo nos olhos dela, que tinha uma certa inocência. Talvez por sua idade, talvez pela sua falta de experiência. Ela estava sendo sincera. Ainda havia tais sinceridades em Luna? Se sim, ainda havia pelo quê lutar. Mas sem se prender aos seus pensamentos, ele retirou um livro de dentro do sobretudo, entregando a ela. Embora não sorrisse explicitamente, seus olhos demonstravam um certo brilho como o de um garoto maroto.

— Ah... — balbuciou Sarah, um pouco envergonhada. — Um mapa e um guia da área de Luna... Você é precavido.

— Aham. — murmurou Donovan retirando um pequeno pacote com manteiga de amendoim.

— Ah, bem... Então talvez eu não vá ser tão útil quanto pensei...

— Quer um? — perguntou Donovan, mostrando o bolso, que estava cheio dos mesmos pacotes. Não precisava ler mentes para saber que ela estava querendo perguntar algo.

— Não, obrigada. — respondeu Sarah, surpresa. Como Donovan voltou a ficar silencioso, sorvendo a pasta de amendoim com um canudo, ela continuou. — Bem, então eu vou atrás do pessoal. Talvez eles...

— Já se sentiu deslocada alguma vez? Estando em um lugar e não se sentindo parte dele?

— Sim. — respondeu Sarah, surpresa pela pergunta do jovem. — Me sinto assim, aqui, na Área Residencial.

— Por quê?

— Não sei. Sinto-me uma inútil aqui, que não estou fazendo o que é certo vindo me divertir e deixando de cumprir minha missão... Por quê? Você também se sente assim?

— Em toda Luna. O tempo todo. — falou Donovan terminando de comer a pasta.

— Sério? — surpreendeu-se Sarah. — Tem algo a ver com o acidente?

— Caverna de Platão. — respondeu Donovan levantando-se e indo até o lixeiro jogar o pacote vazio.

Sarah olhou confusa para Donovan, afinal do que ele estava falando? O que havia no Sub-mundo para fazê-lo mudar de idéia e sentimento em relação a Luna? Sentindo uma sensação ruim, ela olhou para trás, com um olhar frio e tenso. Algo ruim estava acontecendo. Donovan também sentiu a sensação, voltando a ter aquele olhar sério de antes. Um carro de polícia passou pela rua paralela à praça, em alta velocidade. Não havia sirene, pois não podiam perturbar os habitantes de Luna. Toda ação deveria ser realizada em silêncio, independente do grau de periculosidade da mesma. Por puro reflexo, Donovan saiu correndo seguindo atrás da viatura. Ao ver o colega correr atrás da viatura, Sarah fez o mesmo. Algo ruim estava acontecendo e ela poderia vir a fazer algo útil na Área Residencial. Sarah treinava todos os dias, para resistir a várias situações que exigissem esforço físico grande. E correr estava entre essas situações. E ela era uma das melhores nessa atividade de treinamento. Vendo Donovan correr muito à sua frente, ela pôde ver o motivo dele ser fruto de admiração por alguns de seus amigos. Sentia-se uma amadora e não uma das melhores agentes do Muro.

Os dois correram por exatos dois quarteirões, Sarah um pouco atrás, viu quando Donovan parou na esquina de uma rua transversal. Olhando para a rua transversal, ele permanecia parado. Por que parara? Ela pôde ouvir os sons de tiro, aumentando o ritmo até chegar na mesma esquina que Donovan.

A viatura que eles viram havia parado em forma de bloqueio, com mais uma outra viatura. Por cima desse bloqueio, pulava uma garotinha com cerca de sete anos. Policiais no outro extremo da rua atiravam na garotinha com suas pistolas, tentando detê-la. Os feixes lasers desviavam ao chegar próximo à garotinha, como se chocassem em um campo de força, que protegia a garotinha. O fato dos locais atingidos pelos feixes causarem ondas azuladas que desapareciam, reforçaram a teoria sobre um campo de força sobre a garotinha. Ela estava suja e possuía roupas de puro couro, além de rasgadas. Trazia um boneco nas mãos. Mesmo sem ter ido ao Sub-mundo, Sarah viu que aquela garotinha era do Sub-mundo, um dos monstros de lá. Donovan olhava fixamente pra cena, um pouco compenetrado. A garotinha corria na direção dos dois. Sem hesitar e sabendo o que fazer, Sarah puxou sua pistola e fez mira bem entre os olhos da garotinha.

— O que pensa que está fazendo?!

O tiro dado por Sarah passou quinze metros acima da garotinha devido ao tapa que Donovan dera na pistola, segundos antes dela apertar o gatilho. Sarah olhou surpresa para Donovan:

— É uma aberração do Sub-mundo! As ordens são claras de destruírem esses seres!

— É apenas uma criança, Sarah! Não está vendo isso? — perguntou Donovan, com raiva.

Um grande fluxo de vento começou a varrer a rua, como um tufão. As viaturas começaram a ser arrastadas pela rua, enquanto os policiais tentavam se segurar. A garotinha fechou os olhos, com medo, mas continuou correndo. Lágrimas corriam pelos seus olhos. As viaturas e os policias que não se seguraram começaram a girar no alto, em espiral como em um furacão. Sarah e Donovan não eram afetados por esse fenômeno, permanecendo no mesmo lugar. Sarah olhou para Donovan e gritou:

— É uma aberração com poderes psiônicos!

— Uma criança, Sarah! Apenas uma criança! — gritou Donovan agachando-se.

— O que pensa que está fazendo?! — perguntou Sarah, surpresa.

— Um resgate.

Donovan abraçou a garotinha, no mesmo instante que ela chegara onde eles estavam.

— Vai ficar tudo bem, menina... — falou Donovan num tom paternal.

— Não me force a fazer isso, Donovan! — falou Sarah, com a arma apontada para a cabeça de Donovan. — Solte a aberração!

Donovan cerrou o olhar levemente e balançou a cabeça em negativa.

— Da outra vez eu não pude fazer nada, mas agora eu posso... — murmurou Donovan.

— Eu não vou repetir! — falou Sarah, engatilhando a arma.

— Não se pode ignorar o mundo fora da caverna após tê-lo conhecido. Desculpe-me, Sarah.

Sarah não pôde falar nada. Um grito alto ecoara em sua mente, tão forte que rapidamente a levou ao chão, de tão zonza que ficou. Manter a consciência estava difícil, pensar estava difícil. Ela deveria lutar senão iria perder os sentidos e ela não podia fazer isso... O furacão cessou, fazendo os policiais e as viaturas que giravam no ar, caírem. O tremor no chão trouxe Sarah à realidade, fazendo-a recuperar os sentidos quando estava preste a perdê-los. Fora vítima de um ataque mental, realizado diretamente na mente. Estudara sobre eles, mas nunca fora vítima de um. Levantando-se, ainda cambaleante, ela não viu mais Donovan e a garotinha. Tudo o que viu foi uma tampa de bueiro se fechando. Os policiais ainda tentavam se recuperar do furacão que varrera a rua, certamente fruto de poderes psiônicos. Donovan escapara pelos esgotos, ele estava nas Favelas.

Abaixo da Área Residencial ficavam os esgotos, onde todos os canos e mecanismos físicos do complexo ficavam. Favela era o local onde residiam os técnicos responsáveis pelo conserto físico do complexo, seja ele um simples vazamento a destruições causadas pelos habitantes do Sub-mundo. Nas Favelas também residiam aqueles que não tinham condições de pagarem sua entrada na Área Residencial, mas cujos ofícios poderiam ser úteis ao complexo. Alguns operários da área industrial do complexo Luna também residiam ou tinham famílias nas Favelas. As condições de vida eram precárias, mas era visivelmente melhor do que no Sub-mundo, onde cada dia era uma luta por sobrevivência. Donovan vivera um mês nas favelas, antes de conseguir voltar para o Muro. Ele estudara a estrutura do local, pois os habitantes da favela possuíam alguns dos valores dos habitantes do Sub-Mundo, mesmo um pouco deturpados devido ao convívio com os habitantes de Luna. Mesmo conhecendo a Favela, Donovan preferiu seguir pela chamada “Selva de Canos”, pois caso ocorresse um combate, poucas pessoas sairiam machucadas. A criança dormia em seu colo, por isso ele não prosseguia em máxima velocidade. Precisava ser cuidadoso, pois certamente os Paladinos de Metais estavam caçando-no pelos esgotos e eles não hesitariam em matá-lo, nem a criança.

Após meia hora de caminhada, Donovan parou de caminhar. Havia um duto por onde se filtrava a água que era sugada pelos poços de perfurações no Sub-mundo. Mesmo vivendo num complexo, eles parasitavam os recursos naturais do Sub-mundo, como verdadeiros usurpadores. Ao lado do reduto de filtro estava a passagem pela qual ele entrara em Luna anos atrás. Ainda se lembrava dessa época, ainda acreditava numa Luna justa e honrada. Como não haviam conseguido entrar em Luna da forma usual, eles tiveram que encontrar uma outra entrada. Ele e seu amigo, Lukhas. Donovan contemplava o local, sentindo suas lembranças retornarem fortes.

— Eu tentei avisa-lo, mas você não quis ouvir. — Guaxinim reaparecera, sentado em um dos inúmeros canos. — Estava cego pelo seu idealismo e por amizade, Lukhas resolveu segui-lo nesse sonho... Eu não o culpo. Nenhum dos dois.

— Mas eu sim. — respondeu Donovan. — Talvez ele ainda estivesse vivo, se não fosse por mim...

— Algumas coisas são necessárias acontecerem, Donovan. Não há como impedir.

Donovan não respondeu, apenas começou a descer a escada que levava ao duto. Prosseguindo pela calçada existente ao lado do fosso, ele já podia ver a passagem. A criança suspirou profundamente e aconchegou-se mais nos braços de Donovan, que já começavam a ficar dormentes. Guaxinim o acompanhava, flutuando acima da água. Sua figura translúcida e azulada já não assustava Donovan mais. Uma sensação esquisita fez Donovan hesitar. Um brilho metálico vindo da passagem o fez olhar em volta com mais precisão. O som de um tiro ecoou pelo duto. Antes que o feixe atingisse Donovan, ele foi desviado chocando-se no que parecia ser um campo de força. Seus olhos estavam levemente cerrados. O que ele mais temia acontecera...

Saindo da passagem vinha Estevão, em sua armadura eletrônica. Com um sorriso, seu amigo o encarava desafiadoramente. Acima, na barreira do duto surgiram mais seis soldados. Donovan reconheceu os membros do grupo com quem ele estava horas antes. Sua equipe fora chamada para ajudá-lo na caça. Estevão sabia bem onde estava a passagem secreta. Ele e Donovan a usaram em uma de suas missões, tentando recuperar um equipamento roubado por um espião. Por trás de Donovan vinha um dos homens e, ao lado de Estevão estava Sarah.

— Donovan, entregue-se! — falou Estevão.

— Saia da frente, Estevão! E eu o deixarei vivo! — ameaçou Donovan.

— Não podemos fazer isso, Donovan! — falou o homem.

— Não me forcem a reagir, Mentor. — Donovan segurou a garota com um braço, enquanto colocava a outra no sobretudo.

Os seis que estavam nos canos da selva de canos atiraram com toda a carga, em Donovan e em Guaxinim. Todos os tiros passaram por Guaxinim como se ele não existisse e desviavam em Donovan, refletidos pelo campo de força. A garotinha acordou, assustada e chorando. Donovan a acalentou:

— Calma, vai ficar tudo bem... — voltando-se para os seis ele continuou. — Eu avisei!

Os seis que estavam nos canos da selva de canos foram jogados para trás, fortemente. Atravessaram os canos, caindo inconscientes no chão. O impacto havia sido muito forte. Um ataque telecinético, realizado com a materialização do pensamento. Mentor apenas olhou surpreso, enquanto Sarah proferiu com raiva:

— Eu avisei que a garotinha tinha grandes poderes psíquicos! Eu vi quando ela saltou três metros de altura e quando fez as viaturas e policiais girarem no ar como folhas!

— Não é a garotinha... — respondeu Estevão com um sorriso.

— Como assim? — perguntou Sarah.

— Então você notou, velho amigo? — perguntou Donovan com um olhar desafiador.

— Desde que você retornou. — falou Estevão. — Mas é uma pena que não vá poder mais utilizar seus poderes psíquicos...

Donovan cerrou o olhar enquanto Estevão ativava sua arma. Mentor e Sarah fizeram o mesmo. Donovan abraçou mais fortemente a garotinha. Donovan sabia que Estevão sempre quisera testar suas habilidades contra ele, visando estabelecer quem era o melhor do Muro. Mas agora Donovan não tinha tempo de brincadeiras, agora era sério. O risco maior não era a sua vida, mas sim a da garotinha. E ele não ia deixar que outra pessoa sobre sua proteção morresse.

— Estão vindo mais Donovan... — falou Guaxinim.

Os três começaram a atirar bastante em Donovan, enquanto o mesmo saltara rapidamente e corria em direção a Sarah e Estevão. Usava seus poderes, tornando-se mais rápido, muito mais rápido. Em apenas cinco segundos ele cruzou os cem metros de distância entre os dois e ele. Antes que Estevão e Sarah pudessem fazer algo, ele os derrubou com o impacto e prosseguiu pelo túnel. Guaxinim, com um sorriso, começou a desaparecer. Da selva de canos um grupo com cerca de cinqüenta paladinos de metal surgiram. O túnel era longo, precisando de pelo menos três minutos para ser percorrido, mas com a velocidade aumentada daquela forma, Donovan conseguiu cruzá-lo em menos de dois minutos. A luz no fim do túnel mostrou sua saída. Ele saíra a dez quilômetros do solo. Utilizando seus poderes telecinéticos, ele amorteceu sua queda em direção ao solo. A criança tremia, chorando. Não conseguia entender o que estava acontecendo... Ao chegar no solo, ele olhou ao redor ofegante. Gastara muito de sua energia psíquica, não iria agüentar muito mais tempo.

Ele havia descido no que restara da cidade de Washington, perto do antigo capitólio. Pouca luz havia naquele ambiente devido à sombra do complexo. Conflitos entre gangues apenas pioraram o local, degradando-o cada vez mais. A chamada Guerra da Tríade arrasara de vez com todas as cidades que havia na Terra. A sobrevivência passou a ser uma luta necessária todos os dias e somente os mais fortes sobreviviam no Sub-mundo, o local mais perigoso de toda a América, onde não havia lei e muito menos qualquer tipo de acordo, apenas grupos que tentavam dominar cada vez mais o local. A paisagem era desoladora, minando a pouca esperança de Donovan. Sua realidade agora era outra, mas era melhor do que aquela que ele vivera em Luna. Estava decidido, não ia vender sua alma apenas por tentar ver um mundo melhor. Não podia viver nas sombras e aceitar que aquilo era o mundo real. Guaxinim apareceu ao seu lado:

— É. Não mudou tanto quanto da última vez que aqui estivemos, não é?

— Está melhor que a Área Residencial. — disse Donovan com um tom sarcástico.

— Assim é que se fala, garoto. Já começou até a recuperar o bom humor...

O engatilhar de várias armas trouxe os dois à realidade do Sub-mundo. Um grupo com cerca de vinte e cinco pessoas cercaram os dois. Estavam armados com armas de tecnologia de ponta. Pelo que parecera, um transporte do Muro fora derrubado, com um grande estoque de armas. O grupo estava pegando-as para sua guerrilha pessoal, quando Donovan e Guaxinim surgiram. Um dos guerrilheiros aproximou-se e disse:

— Quem são vocês? Identifiquem-se!

— Estamos apenas de passagem... — falou Donovan. Não sabia se ia se garantir com a energia psíquica que tinha no momento. Precisava meditar um pouco para recuperar-se.

— Santo Deus! — exclamou uma mulher. — É o Guaxinim!

— Só pode ser um truque! — exclamou um homem vendo os murmúrios ao seu redor. — O irmão de Alexandre foi morto há muito tempo atrás! Quem são vocês? Falem!

— Ataque de Paladinos! — gritou um jovem guerrilheiro olhando para cima.

Do complexo de Luna cerca de cinqüenta paladinos de metal desciam em queda livre, mantendo uma velocidade estável por propulsores nas botas. Sabendo o que fazer, o grupo guerrilheiro se dispersou pelo terreno. Os paladinos de metal começaram a atirar antes mesmo de pousarem no solo. Respondendo ao fogo, os guerrilheiros começaram a atirar também. Os paladinos de metal eram um grupo de soldados de Luna que desciam ao Sub-mundo. Constantemente entravam em conflito com as gangues e grupos existentes no Sub-mundo, sendo muitas vezes autores de grandes chacinas. Os Guaxinins do Asfalto, grupo liderado por Alexandre Mattos eram os maiores rivais dos paladinos, sendo responsáveis pelas maiores e épicas batalhas contra os soldados de Luna. Os Guaxinins acreditavam que todos deveriam ter o direito de habitarem em Luna e não somente aqueles com condições financeiras para pagar seu passe de entrada. Foi um dos Guaxinins do Asfalto que derrubou a nave de Donovan, fazendo-o ter de sobreviver no Sub-mundo. Donovan correu para trás de um escombro, enquanto que o enigmático Guaxinim voltou a desaparecer. A garotinha ainda estava em seu colo. Ao lado, no escombro de um antigo prédio, cinco guerrilheiros lançavam fogo cruzado contra os paladinos de metal.

— Eles são muitos! — gritou um dos guerrilheiros.

— Mas estamos em nosso terreno, temos essa vantagem! — falou uma mulher atirando compulsivamente. — Murilo, chame pelo rádio o restante dos Guaxinins do Asfalto que estiverem na área! Diga que o grupo Delta foi encurralado por Paladinos do Asfalto!

— Você! — um outro guerrilheiro apontou a arma para a cabeça de Donovan. — Você trouxe os Paladinos com você! Está com eles?

— Não, ele está fugindo deles! — falou uma garota recarregando arma. — Fiz uma varredura psíquica na garotinha, já que as defesas dele são mais fortes do que o normal.

Donovan fitou a jovem, certamente uma psiônica por seu linguajar. A jovem levou um tiro no ombro, caindo no chão. O tiro atravessara o ombro da garota criando um ferimento agravado.

— BT! — gritou Murilo, um dos guaxinins, desligando o rádio.

Donovan adiantou-se ao jovem e tocou no ombro dela. Concentrando-se, ele utilizou seu poder psíquico, conseguindo curá-la levemente, o suficiente para que pudesse mover o ombro. O tiroteio começou a ficar acirrado, alguns guaxinins tombaram do outro lado. Donovan pegou a arma que BT portava e lhe entregou a garotinha.

— Cuide dela enquanto eu não voltar, certo?

— Certo. — respondeu a garota surpresa por ter sido curada de tal maneira.

Donovan começou a atirar rapidamente com a arma, enquanto movia-se pelos escombros. Precisava encontrar alguma brecha na formação de ataque dos paladinos de metal, o que seria muito difícil, Donovan treinara com os treinadores dos paladinos e sabia quão perfeita eram as estratégias do grupo. Mas sabia que os paladinos não tinham porte para um combate em longo prazo, sendo necessário apenas que os guaxinins se mantivessem firmes durante pelo menos mais uma meia hora. Mas será que eles resistiriam muito tempo também? Afinal, foram pegos de surpresa. Os paladinos estavam com a situação dominada devido ao grande número em relação aos guaxinins do asfalto. As baixas entre os guaxinins já chegavam em número de oito. Os guaxinins começavam a ser cercados pelos paladinos, que estavam dispostos a tudo ou nada nesse combate.

Um grande zumbido ecoou entre os prédios, causando uma grande explosão no centro da batalha, onde estavam os paladinos. Um grupo de dez paladinos de metal caíram no chão, enquanto os outros conseguiram sobreviver à explosão. Um grupo de guaxinins do asfalto, com cerca de 100 pessoas vieram pelas ruas, atirando e juntando-se aos guaxinins sobreviventes. Entre os guaxinins, duas máquinas com canhões de plasma vinham em uma velocidade lenta. O grupo de paladinos de metal estava preparado para caçar um psiônico, mas não para enfrentar um grupo de guaxinins do asfalto armados com canhões de plasma e em número muito maior. Um outro tiro de canhão foi o suficiente para mostrar qual estratégia tomar naquela nova batalha. Sem alternativa, muitos paladinos começaram a levantar vôo em direção a Luna. Logo, poucos eram os paladinos que estavam no fogo cruzado. Dois paladinos correram entre o fogo cruzado, carregando um terceiro paladino de metal. Chegando a um lugar seguro, os dois começaram a analisar a situação do colega.

— Temos que voltar a Luna! — falou um dos paladinos de metal.

— Vocês não vão a lugar nenhum!

Um grupo de dez guaxinins os cercou, os dois paladinos levantaram-se, preparando-se para a última batalha. Os guaxinins engatilharam as armas, prontos para responder ao fogo. Era hora de ir à forra na batalha. Com o fogo cerrado, os paladinos de metal sabiam que era seu fim, mas os tiros desviaram, como se os três estivessem protegidos por um campo de força. Ondas azuladas surgiam aonde os tiros acertavam.

— Mas o que está havendo? — perguntou um dos guaxinins.

— É um forte poder psíquico! — respondeu uma garota fechando os olhos.

— Deixem-os ir!

Era Donovan que se aproximava, com um fuzil nas costas. Mentor e Sarah logo o reconheceram, mas não podiam fazer muita coisa. Estevão estava sangrando bastante e as baterias das armaduras estavam no limite. Um membro dos guaxinins aproximou-se e perguntou:

— Quem você pensa que é para ir dizendo o que vamos ou não fazer?

— Então vão ter que me matar também. — falou Donovan abrindo caminho até os dois e curvando-se para curar o ferimento de Estevão.

— Com todo o prazer! — disse um homem engatilhando a arma.

— Não! Ele salvou a BT! — disse Murilo, intervindo na conversa ao puxar a arma do colega.

— Assassiná-los não vão torná-los melhor do que os paladinos de metal. — Guaxinim voltava a aparecer, ficando entre Donovan e os guaxinins do asfalto.

— Oh, meu Deus! É o espírito de Guaxinim! — falou um dos homens, seguido de murmúrios. — O irmão de Alexandre voltou do mundo dos mortos!

— Agora vão! — falou Donovan levantando-se. — Ele não irá agüentar muito tempo sem o tratamento médico necessário.

Sarah fitou Donovan um pouco surpresa, parecia hesitar. Donovan viu que ela começara a ver a luz, mas ainda era só uma penumbra. Mentor ergueu Estevão nos ombros e começou a voar, seguido de Sarah. Tiros de outros cantos do campo de batalha tentaram atingi-los, mas os tiros desviavam. O campo de força psíquico continuava ativo, Donovan estava usando o resto de sua energia psíquica. Quando os dois já estavam longe o suficiente, ele voltou a olhar para o grupo dos guaxinins. Um novo mundo, um campo de batalha. Agora, sem remorso ou inquietude em sua alma. Ele fizera o certo, algo que não poderia fazer em Luna. Olhando para Guaxinim, ele apenas agradeceu com um olhar. Guaxinim voltou a desaparecer, deixando dez guaxinins do asfalto surpresos. Guaxinim foi o criador dos Guaxinins do Asfalto, hoje comandados por Alexandre Mattos, o irmão mais novo de Guaxinim. Guaxinim fora assassinado por um soldado de Luna na frente do irmão, que prosseguiu com os planos de Guaxinim tornando-se o líder dos guaxinins do asfalto e maior grupo de resistência à dominação de Luna. Pelo que aparentara, Guaxinim não desistira de sua missão na Terra, o seu espírito mantivera-se na Terra auxiliando pessoas como Lukhas e Donovan a sobreviverem no Sub-mundo. Guaxinim foi o responsável pelo encontro entre Lukhas e Donovan e continuou agindo como mestre e conselheiro mesmo após a morte de Lukhas. O motivo, ele nunca disse para Donovan. Donovan apenas sabia que podia confiar em Guaxinim, como confiara em Lukhas.

Dirigindo-se a BT, Donovan pegou a garotinha nos braços.

— Qual seu nome, menininha?

— Sou Kitsine. — falou a garotinha.

— Sou Donovan, vou cuidar de você por um tempo, ta bom? Pelo menos até a gente achar seus pais ou parentes.

— Aham. — respondeu a garotinha balançando a cabeça afirmativamente.

Suspirando, Donovan começou a caminhar para longe do campo de batalha. Agora tinha primeiro que se encontrar para poder saber o que fazer, mas pelo menos encontrara o seu verdadeiro lugar. Um local onde não se sentia deslocado e sabia que poderia fazer muito mais pelo que é certo. Como Guaxinim bem dissera, algumas coisas deveriam acontecer sem perguntamos o porquê. Agora, não se sentia mais deslocado, nem só. Donovan começou a subir uma antiga avenida. Ouvindo ser chamado por alguém, ele parou e olhou para trás. Uma garota vinha correndo em sua direção.

— Queria agradecer por ter me ajudado. — falou BT alcançando-o. — E perguntar em nome do grupo se não gostaria de ficar nos guaxinins do asfalto. Você se mostrou um guerreiro valoroso.

— Agradeço a oferta, mas antes tenho que fazer umas coisas. Quem sabe da próxima vez que nos encontrarmos. — respondeu Donovan.

— Está bem. Sempre que precisar pode me procurar entre os Guaxinins do Asfalto. Uma última pergunta... Para onde vai, amigo do Guaxinim? — perguntou BT.

— Por aí. — respondeu Donovan com um sorriso no rosto. — A gente se vê...

Donovan voltou a caminhar com Kitsine em seus braços. Tinha que pagar uma dívida a seu amigo Lukhas, um pedido do mesmo que ele nunca pensou que conseguiria cumprir. Não tinha mais nada a perder. Não estava preocupado com o futuro, pois agora ele realmente estava em casa.


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