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Lista Tormenta - Cristal de Tenebra

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Mensagem por Leishmaniose Seg Fev 14, 2011 1:45 am

Olá,

Cristal de Tenebra foi meu primeiro conto a sério. O meu primeiro “curto” e finalizado. Antes disso eu só escrevia histórias longas, de no mínimo 60 páginas...

Na época eu tinha uns 18 anos e me lembro que eu o escrevi para participar do netbook do Efreet que reuniria os dez melhores contos da Lista-Tormenta de discussão. Ele se passa no mundo de Arton, mundo de Tormenta, cenário de RPG Nacional tão evocado pelo personagem Sheldon no jogo do Classroom Deathmatch. Tinha como foco um grupo formado por alguns personagens que eu havia apresentado no projeto da Sociedade Helsen, tornando-se assim um complemento do RC que eu havia enviado e havia sido aprovado pela lista.

Reconheço que na época eu não escrevia detalhadamente e acabou ficando mais um roteiro de HQ e Anime que um conto “per se”, inclusive não explicando o que determinadas magias faziam ou algo desse tipo: um conto voltado aos jogadores de RPG do cenário e que conheciam o 3D&T - pra entender o que cada magia utilizada faz, recomendo darem uma olhada no Manual 3D&T Alpha...

Bonanças.

Atenciosamente,
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Mensagem por Leishmaniose Seg Fev 14, 2011 1:59 am


A Face de Tenebra se encontrava no alto do céu, em sua fase cheia. Quando uma tábua no teto foi rompida, o luar invadiu aquele templo abandonado. Do buraco feito no teto, quatro vultos observaram o local. Era um antigo templo, com um altar e colunas com desenhos de ofídios. Uma corda desceu levemente, ficando pendurada a poucos metros do chão. Pela corda começaram a descer, um por um, os quatro vultos. O primeiro a descer era um jovem. Moreno, com os cabelos castanho-claros e olhos castanho-escuros. Trajava roupas comuns, duas camisas e uma calça de pano, além das bota. Trazia um gato no ombro e um bastão às costas. A segunda a descer demonstrou ser uma meio-elfa. Tinha a pele branca, os olhos vermelhos e compridos cabelos negros soltos ao vento. Trajava um peitoral de armadura com um grande “H” pintado nele, por cima de roupas comuns e tinha uma espada às costas. O terceiro era mais jovem do que os dois primeiros, mal saído da adolescência. Tinha a pele branca, os olhos e os cabelos castanho-claros. Trajava um peitoral com um “H” pintado nele, juntamente com roupas comuns e uma espada katana às costas. O último era tão jovem quanto o terceiro. Tinha a pele branca, os cabelos ruivos e os olhos verdes que entrava em contraste com o robe negro que trajava. Trazia um bastão, ornamentado com um cristal na ponta superior, preso ao cinto.

— Khalmyr! Isso é tenebroso. — murmurou o último dos quatro.

— Era um templo de um culto Sszzaazita, pelo menos até alguns dias atrás, quando foi descoberto pelo Protetorado do Reino e destruído. — falou o primeiro.

— Se esse templo sszzaazita já foi desativado, o que fazemos aqui Axel? — perguntou o último olhando apreensivo para o salão onde se encontrava.

— Como é que é? Eu devia ter imaginado! Se você sugeriu os dois é porque eles deveriam ser tão vagabundos quanto você, Duende! Nem sequer sabe qual é a missão! Eu não devia ter vindo! — falou a meia-elfa afastando-se em direção ao altar.

— Você se ofereceu, Suanny. — falou o terceiro. — Só nós três fomos designados.

— Quietos os dois. — falou Axel, o primeiro. — Embora tenha sido desativado, não sabemos o que tal local aguarda. Janotas, estamos aqui para encontrar um artefato, um cristal, que aparentemente veio da lua. O sacerdote-chefe daqui o viu cair do céu. Aquele zumbi que interceptamos algumas semanas atrás estava levando tal recado a Jasmira. Aparentemente o cristal amplifica os poderes mágicos das trevas e isso pode ser perigoso nas mãos da Sociedade da Noite Eterna. Kildred, Suanny e Janotas, devemos fazer uma busca total na área. O Protetorado não encontrou nada no local, além dos cultistas e uma vítima.

Kildred, Suanny e Janotas dispersaram-se para melhor investigar o local. O salão estava totalmente devastado, ainda havia sangue e a poeira formava algo parecido com uma fina neblina. Os bancos estavam devastados e dois pilares estavam caídos sobre os mesmos. O salão tinha uma forma circular, com paredes sem cantos. A batalha do Protetorado havia sido grandiosa. Eles haviam impedido um sacrifício humano. O altar apresentava muitas manchas secas de sangue, provavelmente resultado de antigos sacrifícios. Desenhos e esculturas de cobras e serpentes decoravam o local.

— Nossa! Isso aqui está muito escuro. — disse Janotas, balançando o cajado e murmurando palavras num idioma antigo. O cristal começou a emitir uma luz, iluminando parcialmente o local onde ele estava.

— Axel! — chamou Kildred.

Axel aproximou-se do jovem. Ele tinha descoberto uma pequena abertura no chão do salão, próximo à parede sudeste. Axel aproximou-se do local. Estava oculto por um dos pilares derrubados e por destroços de madeiras, certamente antigos bancos. Kildred observou Axel e perguntou:

— O que é que você acha?

— Uma câmara subterrânea... Isso não seria de surpreender aqui. — respondeu Axel. — Mas vejamos o que há lá...

Axel murmurou algumas palavras rapidamente e criou um globo de luz em sua mão, jogando o mesmo em direção ao chão do local. Axel e Kildred olharam pelo buraco, vendo o que aparentemente era um corredor. O alcance da luz não permitia que vissem o fim do mesmo. Levantando-se, Axel estava prestes a chamar os outros dois colegas quando um estrondo ecoou pelo local.

— Não fui eu! — respondeu Janotas, erguendo o bastão levemente.

— É claro que não, imbecil! Veja! — falou Suanny afastando-se da parede.

A parede onde Suanny estava próxima começou a tornar-se azulada. O salão começou a ficar um pouco frio e a parede começou a congelar. Suanny aproximou-se do centro do salão, para onde rumaram Axel, Janotas e Kildred. Um outro estrondo ecoou pelo local e o gelo começou a rachar.

— Estão congelando a parede para poder derrubá-la mais facilmente. — falou Kildred. — Seja lá quem estiver lá fora, está realmente tentando entrar aqui.

— Entrar é uma coisa, ficar é outra totalmente diferente. — disse Suanny desembainhando a espada.

— Não, Suanny. Antes vamos ver com quem estamos lidando... Escondam-se! Atrás do pilar, rápido! — falou Axel.

— Digno de um covarde... — falou Suanny. — Se você está pensando que eu...

— Vamos logo! — falou Axel puxando Suanny até o pilar, ocultando-se por trás do mesmo, onde Janotas e Kildred já aguardavam.

— Ora, se você está pensando que... — Suanny já começava a ficar furiosa.

Um estrondo maior seguido do som de demolição e algo se quebrando interrompeu a discussão. Os quatro, improvisadamente, olharam por cima do pilar derrubado. Pelo buraco na parede entrou um vulto. A nuvem de poeira não permitia a visualização, nem o reconhecimento do recém-chegado, que pela voz parecia ser uma mulher.

— Muito bom trabalho, Lordezinho. — a voz apresentava um tom sensual.

— Eu conheço essa voz... — rosnou Suanny.

— Silêncio! Ou vão nos escutar... — sussurrou Kildred.

Suanny olhou com certo rancor para o garoto, já que ele era mais novo que ela, mas calou-se, pois pretendia descobrir quem estava invadindo de tal forma o templo abandonado. A mão segurava firme a espada. Um grunhido pôde ser ouvido, um grunhido que ecoou de forma assombrosa.

— Eu não me esqueci de você não, Heuque. Graças à sua força a parede foi derrubada.

— Vamos logo! — uma voz profunda, como se viesse de um fosso profundo, cortou o diálogo.

— Por Wynna! — exclamou Axel. — É a voz de um cavaleiro da morte.

Quando a nuvem de poeira baixou, o luar iluminou levemente o grupo recém-chegado. Havia uma garota, bonita e com o corpo esbelto. Tinha os olhos verdes, os longos cabelos castanho-claros caindo sobre a metade direita da face e usava um vestido curto de cor vermelha. Ao seu lado estava um esqueleto que trajava uma armadura negra, como se tivesse sido queimada pelo mais quente dos vulcões. Dois pontos vermelhos brilhavam nas órbitas dos olhos. O terceiro acompanhante era outro esqueleto, mas trajava roupas rasgadas, parecidas com mantos de um monge. Dez pessoas entraram em passos lentos após os três. Possuíam a carne em decomposição e trajavam roupas rasgadas. Dois cães com a carne em decomposição e dois pontos vermelhos no lugar dos olhos também entraram no local.

— Um heucuva, um cavaleiro da morte, dez zumbis e dois cães infernais. Mas o que é a garota? — perguntou Kildred.

— Uma vampira... — murmurou Axel. — Uma vampira bacante. São da Sociedade da Noite Eterna...

— O que vamos fazer? — perguntou Janotas.

— Kerryne... — rosnou Suanny segurando o punho da espada.

Mal se pôde ver quando Suanny se levantou e saltou sobre Kerryne, derrubando-a no chão. Suanny saltou para trás acrobaticamente com a espada em punho. Axel olhou surpreso para a situação. Suanny agira inesperadamente. O gato saltou do ombro de Axel, que disse:

— Que droga, Suanny! Éksis procure um local seguro, mas fique perto. — disse Axel ao gato, que saltou entre alguns escombros.

— O que vamos fazer? — perguntou Janotas.

— Manobra 12, Janotas! Rápido! — falou Kildred levantando-se.

— É pra já... — falou Janotas girando o bastão e apontando-o para os membros da Sociedade da Noite Eterna enquanto murmurava algumas palavras.

Um brilho circular envolveu o chão em que estavam os membros da Sociedade da Noite Eterna e sete zumbis foram de encontro ao chão. Os cães pareciam que estava sobre uma camada escorregadia de gelo. O Heucuva estava fora da área de alcance e apenas olhou para os três que acabavam de surgir por trás de um pilar. O Cavaleiro da Morte manteve-se parado, apenas observando. Janotas pôs o bastão no ombro, como uma mira e disse:

— Primeiro, uma magia Terreno Escorregadio de Neo para deixar tudo escorregadio. Depois, uma Explosão de Fogo!

Um fio de fogo saiu de dentro do cristal e dirigiu-se à área afetada pelo Terreno Escorregadio de Neo. O Cavaleiro da Morte deu um salto, saindo da área escorregadia e parando mais ao sul do templo. O fio de fogo atingiu um dos zumbis, liberando uma explosão em chamas dentro de uma área de 30 metros. Um dos zumbis desintegrou-se com o ataque, enquanto os outros saíram fumegando e avançaram na direção dos três. Os cães não demonstraram sentir nada. Apenas latiram, correndo em direção aos três atacantes. Axel levantou-se e saltando por cima do pilar caído, avançou com o bastão em direção aos zumbis. Kildred viu o Cavaleiro da Morte aproximando-se da área e com a katana empunhada, disse:

— Janotas, toma conta deles que eu vou cuidar do cavaleiro da morte.

— Pode deixar. — Janotas criou um pequeno tufão de vento com Ataque Mágico que arremessou os dois cães contra a parede, do outro lado do templo.

Kildred avançou na direção do Cavaleiro da Morte, atacando-o com sua espada katana. O Cavaleiro bloqueou o ataque. Kerryne levantou-se, com um filete de sangue no canto direito da boca. Olhando para Suanny com um sorriso sádico no rosto, ela limpou o sangue com as costas da mão e disse:

— Su-su. Que surpresa agradável... E nosso querido Axel Brownie, veio também? Estou “morta” de saudades.

— Ora, sua meretriz! — Suanny avançou impulsivamente contra Kerryne.

Kerryne esquivou-se do ataque com a espada, enquanto garras cresciam em seus dedos. Com as garras da mão direita, Kerryne conseguiu acertar a armadura de Suanny, rasgando-a diagonalmente em sua parte frontal como se fosse papel. O ataque atingiu superficialmente a carne, causando leves arranhões, quase imperceptíveis. Suanny vendo-se atingida avançou com mais ódio ainda. Axel corria entre os zumbis rapidamente, girando o bastão e atingindo-os. Janota atirava leves bolas de fogo com a magia Ataques Mágicos contra alguns dos zumbis. Três já haviam sido derrotados no combate, sobraram apenas seis. Kildred foi arremessado no chão, próximo a Axel. Ao levantar-se em um salto, ele viu apenas o Cavaleiro da Morte abrindo a boca e estufando o peito, como se inspirasse profundamente.

— Cuidado Kildred! — gritou Axel prevendo o ataque do Cavaleiro.

Um jato de vento frio, misturado com pequenas partículas de gelo, foi emanado da esquelética boca do Cavaleiro da Morte. Um Sopro Gélido. A temperatura contida no sopro estava abaixo de zero o suficiente para congelar um ser vivo rapidamente, matando-o. Kildred não pôde ver nada, pois foi arremessado longe por Axel que saltou, empurrando-o. O jato frio pegou Axel em cheio, juntamente com um zumbi. Uma nuvem fria condensou-se na área, ocultando Axel e o zumbi. Janotas ficou estarrecido e Kildred levantou-se furioso, correndo até a nuvem. Um zumbi se colocou em sua frente, mas o garoto o cortou ao meio de forma abrupta e rápida. A nuvem começava a se espalhar, desaparecendo no ar. Um vulto pôde ser avistado dentro da nuvem. Estava imóvel e caiu no chão. Embora não pudesse ser visto, ouviu-se o barulho de gelo quebrando e alguns pedaços de gelo saíram da pequena nuvem. Uma risada profunda ecoou no salão.

— Teve mais sorte que seu amigo, humano! Mas ela acabou...

O Cavaleiro da Morte abriu a boca e uma comprida língua saiu em forma de chicote na direção de Kildred. Kerryne arreganhou os compridos caninos ao sentir a espada cortar-lhe o flanco. Com os olhos injetados de sangue, fitou furiosa sua oponente. Suanny sorriu, tendo gostado de ver que aquele ar arrogante da vampira sumira por sua causa.

— O que foi, meretriz bacante? Não está mais gostando de ser a rata?

— Está na hora de mostrar quem é a rata, orelhuda! — Kerryne atacou com as garras e as presas expostas.

Suanny avançou com um olhar de ódio contra a vampira, com a espada empunhada firmemente. Após bloquear o ataque da língua com a espada de Kildred ficara com uma espécie de muco fervente. Janotas preparava-se para atirar mais alguns Ataques Mágicos nos cinco zumbis restantes, quando sentiu algo cair em seu ombro. Era Éksis.

— Éksis, meu filho! Quer me matar do coração, é? O que foi? Eu não...

Um dos cães infernais abriu a boca e Janotas viu uma pequena chama formando-se no interior da boca do cão. Ele ia atirar um jato de fogo. Cães Infernais possuíam como arma natural o sopro flamejante. Janotas mal teve tempo de se esquivar, sentindo o calor de perto e tendo a ponta de seu robe chamuscada. Kildred atingira o Cavaleiro da Morte em seu flanco, o que resultou num contra-ataque mais potente do Cavaleiro. Por pouco a espada não atravessou o peitoral de armadura de Kildred, mas machucara seu corpo o bastante, o arremessando contra a parede em um choque brusco. O Cavaleiro da Morte abriu a boca e a língua atacou novamente ao caçador que ainda não se levantara. Suanny caíra no chão, arremessada por Kerryne.

— Quem é rata aqui? Pelo que eu sei, a orelhuda é você, garotinha!

Kerryne chutou a mão de Suanny jogando sua espada longe e preparou-se para atacar com suas garras. Não estava mais brincando, ia direto no pescoço. Um golpe rápido de bastão foi o bastante para bloquear o ataque de língua do Cavaleiro da Morte. Kildred observou espantado, Axel colocara-se entre ele e o Cavaleiro da Morte. Ao ficar em pé, Janotas olhou para o cão que estava ainda soltando o sopro de fogo. Éksis saltara de seu ombro e já se encontrava em cima da escultura de um dos pilares que restara em pé.

— Valeu, irmãozinho. Eu tinha me esquecido desses esquentados... — falou Janotas, quase desabafando. — Mas, espera aí! Cadê o heucuva e o outro cão?

Kerryne preparava-se para atacar fatalmente Suanny e o Cavaleiro da Morte estava pronto para lançar outro sopro gélido. Um uivo vazio e profundo, como o vento em um tubo oco, ecoou no salão. Era o outro cão infernal. O Cavaleiro da Morte parou o ataque e olhou para trás, Kerryne olhou para frente. Suanny vendo a oportunidade, deu um golpe de artes marciais em Kerryne, com as duas pernas juntas, ela arremessou Kerryne para frente e correu em direção à sua espada. A vampira deu uma acrobacia e caiu em pé. Sorrindo, ela disse:

— Continuamos nossa brincadeira depois, ratinha orelhuda!

— O quê? — exclamou Suanny surpresa prestes a pegar a espada.

O Cavaleiro da Morte guardou a espada e fez um gesto aos zumbis restantes, que avançaram em massa sobre Axel e Kildred. Próximo à entrada do túnel subterrâneo que fora descoberto por Kildred, estava o heucuva e o segundo cão infernal. O Cavaleiro da Morte e Kerryne adiantaram-se em direção ao heucuva. Suanny pegou a espada e correu atrás de Kerryne.

— Não pense que vai escapar assim, meretriz!

— Cuide dela, bacante! — disse o Cavaleiro da Morte.

— Pode deixar, Lorde Sithloth.

Kerryne virou-se para trás e apontou a mão em direção a Suanny, lançando a magia Terreno Escorregadio de Neo. Suanny escorregou, indo ao chão. O heucuva saltou no buraco, seguido do Cavaleiro da Morte e de Kerryne. Kerryne criou uma bolha gigante de água na entrada do buraco. O Cavaleiro da Morte, dentro do túnel, abriu a boca e lançou outro sopro gélido. A bolha congelou-se, tapando a abertura com uma grossa camada de gelo. Livres de tais obstáculos, os três começaram a caminhar corredor adentro...

Axel derrubou dois zumbis com um único golpe nas pernas. Os outros três avançaram nele, mas Kildred colocou-se entre eles, cortando o peito do zumbi mais próximo a Axel. O zumbi caíra no chão, estava derrotado. Suanny aproximou-se do bloco de gelo criado na entrada do túnel, mas o cão infernal que estava próximo ao bloco, saltou sobre ela. A jovem esquivou-se, girando rapidamente sobre si mesma e revidando com a espada, que atingiu o flanco do cão infernal, reduzindo-o a uma fumaça com odor de enxofre. O outro cão infernal lançava um sopro de fogo em Janotas, que se protegia por trás de um pilar do salão.

Murmurando algumas palavras, Janotas saltou de trás do pilar e apontou o bastão para o cão. Um Ataque Mágico de terra era o suficiente. Uma grande mão de rocha solidificou-se a partir do chão e caiu por cima do cão infernal, que se desfez em enxofre. Janotas respirou aliviado, sentando-se no chão. Lembrando-se dos amigos, olhou na direção onde os dois estavam. O último zumbi acabara de ser cortado por Kildred. Era o fim daquela batalha.

— Axel, se aquele sopro era tão fraco a ponto de você estar intacto, por que fez aquele escândalo todo? Pensei que tinha morrido!

— E teria lhe matado. Graças ao bom Khalmyr, meu pai era um dragão de prata. Herdei a invulnerabilidade ao frio dele, assim como os poderes mágicos. Por que acha que sou um Feiticeiro? — perguntou Axel, sorrindo. — Éksis, meu jovem. Venha cá.

Éksis saltou do pilar onde se encontrava e foi até Axel, subindo no seu ombro. Janotas aproximou-se dos dois, ofegando.

— Acho que gastei minha energia mágica quase toda nesse combate, ainda bem que tenho Sally, meu bastão feiticeiro. — Janotas deu um beijo no bastão.

— E Suanny? — perguntou Kildred.

— Nossa como você tem uma tendência a lembrar-se de desgraças, Kildred! Nunca vi! Tanta coisa boa no mundo... — falou Janotas.

Axel riu, mas procurou Suanny com o olhar. Encontrou-a tentando cortar o bloco de gelo que fora criado na entrada do túnel subterrâneo. A luz da lua que entrava pela abertura feita pela Sociedade da Noite Eterna iluminava bastante o local, principalmente para uma meio-elfa. Suanny golpeava furiosamente o bloco, embora somente pequenas lascas se soltassem do gelo. Axel, Kildred e Janotas aproximaram-se.

— Droga! Eles escaparam! Maldição! — Suanny parou de falar, ofegante. Vendo os três olhando pra ela, continuou. — O que foi? O que estão olhando? Se fossem mais competentes, eles já teriam sido aniquilados!

— Eu não vi você fazer muita coisa... — falou Janotas. — Axel, Kildred e eu acabamos com os dez zumbis e um cão infernal. Bem, você só acabou com um cão infernal e depois de apanhar bastante daquela vampira...

— Como é que é?! Ora, seu... — Suanny avançou sobre Janotas, mas Axel a segurou, puxando para trás. Suanny recuou três passos olhando furiosa para Axel.

— Calma aí, Suanny. Ou vai querer deixar Kerryne escapar desse jeito? Sem um troco? Já imaginou o que ela vai dizer pros outros membros da Sociedade da Noite Eterna? Vai fazer você de Bufão. — falou Axel dirigindo-se ao gelo. — Temos que dar um jeito nisso aqui... Posso usar uma magia de fogo, mas vai demorar muito. Sugestões, pessoal?

— Que tal meter essa sua cabeça no gelo? — perguntou Suanny.

— Mais alguma? — perguntou Axel ignorando Suanny.

— Ah é! Pode quebrá-la, de tão oca que é. Embora o corpo nem fosse sentir muita falta... — Suanny encostou-se na parede, bronqueada.

— Como é que tu agüentas, hein, filhote de dragão? — perguntou Janotas, baixinho.

— Ah, você precisa ver quando ela está naqueles dias... — disse Axel.

— Hã, que tal uma magia como a Erupção de Aleph? —perguntou Kildred.

— Claro, pode lançar senhor mago! — falou Janotas num tom irônico.

— Nem eu, nem Janotas ainda aprendemos essa magia, Kildred. — respondeu Axel.

— Bem, é que eu tenho umas bolas experimentais do Hugho aqui. E, segundo ele, ela causa efeitos parecidos com essa magia. — Kildred enfiou a mão no bolso da calça e retirou um pequeno saco. De dentro do saco, ele retirou uma bola pequenina. — Bem, só precisa de um pouco de terra...

Kildred pegou um punhado de areia do chão e dirigiu-se ao bloco de gelo, colocando a terra bem no centro do mesmo, com a bola enfiada no centro da areia. Suanny aproximou-se e perguntou:

— O que é que o idiota vai fazer?

— E um pouquinho de fogo, mas essa parte eu deixo com vocês. É só atear fogo... Mas, Hugho disse que a gente mantivesse distância. É experimental, foi testado poucas vezes. — falou Kildred descendo do bloco de gelo.

— Tudo bem. — disse Axel criando uma chama em seu dedo indicador.

— Agüenta aí, filhote de dragão! — falou Janotas.

— O que foi? — perguntou Axel.

— Se o Hugho mandou manter distância, então deve ser bastante considerável. Agüenta só um pouquinho... — Janotas correu até o outro lado do salão escondendo-se por trás de um pilar.

— Você está exagerando. — falou Axel.

— O aprendiz de mago está com a razão dessa vez, Duende... — disse Suanny afastando-se juntamente com Kildred até a posição de Janotas.

— Bem, se até Suanny recuou... — falou Axel para Éksis, indo até os três.

— Eu não recuei por medo, mas sim por precaução! Posso sobreviver a muitas coisas, mas se eu sair machucada não vou poder pegar aquela filhote de sanguessuga. — justificou-se Suanny.

— Tudo bem. Então, lá vai... — disse Axel.

Uma pequena chama foi criada na mão de Axel, que a arremessou no gelo, tentando acertar o globo inventado por Hugho. Axel manteve, através de energias mágicas, a chama acesa em cima do mesmo. Mas apenas uma fumaça saiu do mesmo. Kildred, Janotas e Suanny se encolheram atrás do pilar, esperando uma grande explosão. Não ouvindo nada, eles abriram os olhos e levantaram.

— O que foi que houve, Duende? — perguntou Suanny.

— Acho que não funcionou... — disse Axel. — O fogo está queimando lá, mas não aconteceu nada.

— Mas nem teu fogo presta, né, Duende! — reclamou Suanny.

— Estranho, o Hugho me jurou que daria certo. — falou Kildred.

— Não, normal. — argumentou Janotas. — Fico até aliviado, pensei que ia...

O gelo explodiu, transformando-se em uma torre de pura lava que perfurou o teto, jorrando para cima como um gêiser. Axel olhou espantado o efeito da invenção de Hugho, enquanto Suanny ficou paralisada no canto. Kildred agachou-se atrás do pilar e Janotas pulou no chão. A torre durou cerca de um minuto e desfez-se, evaporando no ar como uma nuvem de vapor escaldante. Quando a iluminação voltou ao normal, Kildred e Janotas levantaram-se. Axel apenas olhava boquiaberto, juntamente com Suanny.

— Acabou, Kildred? — perguntou Janotas.

— Como é que eu vou saber? — perguntou Kildred.

— Bem, foi você que arranjou isso. Então pelo menos deveria saber... Já que não sabe, vai lá verificar! — falou Janotas empurrando Kildred.

— Por que eu? Manda Axel, ele é um filho de dragão. Ele é invulnerável a essas coisas. — falou Kildred afastando-se.

— Sou invulnerável somente a frio. Lava não é incluída nas minhas habilidades. Mas tudo bem, eu vou, afinal, sou o responsável pelo grupo mesmo... — falou Axel adiantando-se.

Axel caminhou em direção ao buraco, seguido de longe por Janotas e Kildred. Suanny retomara o controle de seus movimentos algum tempo depois e, envergonhada por ter se paralisado de medo, adiantou-se até o buraco. Axel olhou o buraco no teto. Dava pra ver a lua e as estrelas, e umas poucas nuvens. Axel deu um assobio e olhou pra baixo. Ele engoliu a seco e disse:

— Acabar, eu acho que acabou. Mas... Bem, acho melhor vocês verem com seus próprios olhos...

Janotas e Kildred entreolharam-se e avançaram em direção ao buraco. Suanny, que já estava no buraco juntamente com Axel, olhava espantada pro fundo dele. Janotas e Kildred, após chegarem ao buraco, olharam para baixo. A torre de lava havia feito um buraco não somente no teto, mas no chão do corredor subterrâneo. Havia cavado bastante fundo, dando para construir um outro andar subterrâneo além do já existente. Uma poça de lava borbulhava no fundo do poço. Janotas olhou pra Kildred e perguntou:

— Tem mais algum item maravilhoso aí ou eu posso respirar aliviado?

— Como vamos passar para lá, Axel? — perguntou Kildred, ignorando Janotas.

Suanny saltou no buraco, segurando-se nas bordas opostas. Balançando, ela saltou no túnel e disse olhando as mãos, queimadas:

— Cuidado com as bordas, elas estão um pouco quente!

— Ela não está achando que a gente vai fazer isso aí não, né? — perguntou Janotas.

— A gente te dá uma mãozinha. — disse Kildred.

— Como? — perguntou Janotas.

Janotas arrependera-se profundamente de perguntar ao ver-se suspenso sobre aquele poço de lava, segurado pelas mãos apenas por Kildred e Axel, que o balançavam. Kildred e Axel soltaram Janotas, que caiu rolando no corredor próximo a Suanny, que mantinha um sorriso arrogante no rosto. Kildred saltou e segurou-se nas bordas, soltando logo em seguida. Caiu sentado no chão do corredor subterrâneo devido ao impulso que tinha pego. Assoprava as mãos com intensidade e disse:

— Essa meio-elfa é doida! Esse negócio está fervendo!

— Eu sempre achei que ela era insensível, mas isso é demais. — disse Janotas tirando um pote de dentro do bolso do robe. — Isso é uma poção de cura condensada até adquirir forma pastosa. É uma invenção do Niltrem, então pode confiar que vai ajudar.

— Obrigado. — disse Kildred pegando um pouco e passando nas mãos. As queimaduras sumiram instantaneamente.

— Ah, a magia. — disse Janotas. — Muito mais segura. Se as invenções feitas com engenhocas fossem saudáveis haveria um deus engenhoqueiro no Panteão.

Axel saltou ao lado deles no corredor. Janotas olhou para Axel e estendeu o pote com a pasta. Éksis miou no ombro de Axel, que sorriu, pegou o pote e disse:

— Eu joguei um jato de Água com a magia Ataque Mágico nas bordas, antes de saltar.

Axel avançou rapidamente em Suanny, segurando as mãos dela.

— Ei! O que está fazendo? Eu não preciso disso!

— Eu sei. — disse Axel. — Mas você vai precisar de sua mão sem queimaduras para manejar a espada tão bem como você faz, menina.

Suanny corou levemente enquanto Axel passava as mãos com pasta nas dela. Ficou sem reação, imóvel olhando fixamente para Axel. Axel passava cuidadosamente a pasta nas mãos dela, fazendo as queimaduras sumirem. Axel sorriu e disse:

— Viu só, são muito mais bonitas assim.

Suanny olhou embasbacada para Axel, com o rosto corado e sentindo o coração saltar pela boca. Ao tomar noção do que estava se passando, ela fechou os olhos, séria, e disse com um tom de voz aborrecido:

— Hunf! Não ligo pra isso, não sou uma dessas princesas cheias de mimos.

— Ela tem razão! Está mais pra dragão de tão mal-humorada... — sussurrou Janotas para Kildred, que começou a rir baixinho.

— Vamos indo! — disse Axel adiantando-se. — Janotas, ilumine o caminho.

— Deixa comigo! — Janotas murmurou algumas palavras.

O bastão feiticeiro de Janotas criou um feixe de luz, podendo iluminar alguns metros à frente, como uma lanterna engenhoqueira. O grupo começou a caminhar silenciosamente pelo corredor, não havia nenhum ruído e podia-se sentir a tensão no ar. Suanny e Kildred iam com a espada empunhada prontos para qualquer ação. Janotas ia por último, iluminando o caminho. Axel ia à frente, com Éksis em seu ombro. Tentava ouvir qualquer ruído ou notar algum movimento mais adiante. O corredor fazia uma curva para a direita.

No novo corredor que surgia, havia sangue na parede ainda pingando e corpos retalhados de cobras no chão. Axel olhou a cena e disse:

— Cuidado! Isso era um templo sszzaazita. Cobras e animais peçonhentos devem ser abundantes aqui, como perceberam os nossos adversários. Então, todo mundo atento!

— Veja só, Axel! É uma porta. — disse Janotas movendo o bastão e iluminando uma porta dupla.

A porta era feita de madeira antiga, e estava um pouco destroçada como se tivesse levado uma grande pancada em seu centro. Uma cobra estava espetada entre uma das farpas da porta e outra encontrava-se no chão ao lado da porta, com a cabeça esmagada. Kildred aproximou-se lentamente da porta e tirou a cobra encravada numa lasca com a espada.

— Nossa, foi uma ofídiocina! — falou Kildred.

— Nossa! Ele sabe que cobras são ofídios! — falou Janotas com ironia.

— Engraçadinho! — murmurou Kildred.

— Foi recente, vejam aquela cobra! — falou Suanny.

No chão, uma cobra tinha espasmos violentos. Ela estava sem sua cabeça. Kildred ia dizer algo, quando hesitou e perguntou:

— Vocês ouviram isso?

— O quê?

— Escutem, parece uma voz... — falou Kildred silenciando-se de novo. — Parece muito fraca como num choro...

Kildred hesita, tentando ouvir novamente e olhando pra porta, diz:

— Vem de trás da porta! Tem alguém aí dentro chorando. Oi!

— Você é louco? — perguntou Suanny tapando a boca de Kildred. — Assim vamos perder o fator surpresa!

— Olha quem fala! — exclamou Janotas pra Axel.

— Socorro! — a voz veio baixa, mas audível o suficiente. Vinha de trás da porta.

— É uma garota. — falou Janotas.

— Na certa é uma armadilha, daquela cascavel da Kerryne. — falou Suanny.

— Seja o que for, precisamos investigar... — disse Axel.

Axel aproximou-se da porta e chutou-a. A porta caiu no chão, de tão frouxas que estavam as dobradiças. Conseqüência do golpe na porta dado por um dos mortos-vivos. A poeira subiu com a queda da porta, criando uma névoa de meia estatura. Um halfling, ou alguém com menos de 1,50m de altura, ver-se-ia em sérias dificuldades com aquela névoa. Janotas iluminou o local com sua lanterna improvisada, enquanto Kildred e Suanny aproximavam-se com a espada empunhada. Era um aposento espaçoso, onde havia várias camas e instrumentos de tortura. As camas ficavam do lado direito e os instrumentos do lado esquerdo. Um pilar no meio do aposento sustentava o aposento.

Do lado esquerdo, uma corrente prendia uma elfa pelo pescoço e pelos punhos. Tinha os cabelos castanho-claros e os olhos azuis, a pele era branca e estava abatida. Como se estivesse ali já há muito tempo. Mostrava alguns arranhões e cortes no corpo e manchas arroxeadas podiam ser vistas nos braços e pernas. O que antes devia ter sido uma túnica, agora era um vestido curto até metade das coxas e sem mangas, totalmente esfarrapado e sujo. Ela olhou para o grupo que acabava de entrar e ia abrir a boca, quando desmaiou.

— Que sacrilégio! — disse Janotas. — Que tipo de pessoas teriam coragem de fazer uma coisa dessas com tão linda ninfa? Eu odeio os sszzaazitas! Eles são criaturas maléficas sem coração!

— Tirem-na de lá. — falou Axel.

— Hã, filhote de dragão. Nada me deixaria mais satisfeito do que isso, com exceção das possíveis recompensas pessoais que possam ser oferecidas por essa moça. Mas temos um pequeno problema. Não temos a chave. — falou Janotas.

Axel olhou para Janotas e ia dizer algo, quando desistiu e caminhou até a elfa caída. Pegando nas correntes da jovem elfa, ele aproximou-se das algemas e murmurou algumas palavras. Um feixe de luz e fogo saíram de seus dedos, aproximando o feixe das algemas, ele conseguiu soltar a trava inferior. A trava inferior protegia o pino que unia as duas partes da algema do lado contrário à da tranca da chave. Ao soltar a trava inferior ele puxou o pino da algema, que se abriu. Fazendo o mesmo com as outras duas algemas, ele conseguiu soltá-la. Apontou pra Janotas e disse:

— Dá-me aquela poção.

— Claro, garoto! Além de feiticeiro é metido a ladrão! Por isso é que é o líder do grupo! Wynna te abençoe, meio-dragão! Wynna te abençoe! — falou Janotas.

Janotas retirou um tubo pequeno de dentro do bolso interno de seu robe e o deu a Axel, que despejou o conteúdo na boca da elfa. Axel fechou a boca dela e o nariz, fazendo-a engolir involuntariamente. Poucos segundos depois, ela abria os olhos. Os vergões e cortes tinham desaparecido. Ao ver Axel, ela adocicou a voz e perguntou:

— É você o meu herói?

— Nós salvamos você, garotinha! — falou Suanny com um olhar sério e ameaçador e enfatizando no “Nós” e no “garotinha”.

— Oh, muito obrigada. — respondeu a elfa timidamente. — Sou Mildred. E vocês quem são?

— Somos aventureiros, nobre senhorita. — respondeu Axel levantando-se e ajudando a elfa a levantar-se. — Estamos aqui para encontrar um artefato mágico. Se me permite perguntar, o que fazia aqui?

— Nobre senhorita? Essa eu preciso anotar... — falou Janotas com um sorriso irônico.

— Minha caravana foi atacada por um grupo de sszzaazitas. Somos servas de Lena, não podíamos revidar por isso tentamos fugir. Eu e um jovem Paladino de Lena fomos capturados. Ele foi sacrificado logo que chegamos. Segundo o que ouvi dizer, eu seria a próxima... Mas, faltando dois dias para o sacrifício todos aqui sumiram e isso foi há três semanas. Tenho me alimentado graças aos dons que minha querida deusa me concedeu, mas se não fosse por isso acho que eu já estaria morta... Mas graças a vocês eu estou livre! Obrigada!

Mildred deu um abraço em Axel. Suanny interveio logo:

— Ótimo! Agora, já que você está muito bem, nós podemos ir indo! Volte pra casa!

— Você adentrou numa área de Tormenta? — perguntou Janotas referindo-se à sanidade mental de Suanny. — Como é que ela vai embora daqui sem nossa ajuda? Esqueceu do fosso de lava, foi?

— Não é problema da gente, deixe-a se virar! — exclamou Suanny, furiosa ao ver Mildred abraçando mais ainda Axel, com medo de ficar só. — Assim ela vai nos atrapalhar! Nem lutar sabe!

— Calma, Suanny. — falou Axel. — Vamos fazer o seguinte, ela fica aqui...

— Não! Por favor, não! — suplicou Mildred começando a chorar. — Sou uma clériga de Lena, posso ajudar com minhas magias. Por favor, não me deixem aqui sozinha. — Mildred começou a abraçar mais forte Axel.

— Calma criança... Calma... — falou Axel. — Você vem conosco, então.

— Não jogue com os dados de Nimb, Duende! — exclamou Suanny.

— Calma, ciumentazinha. — falou Janotas com um tom irônico. — Ela só está emprestando a espada para nós. Vai se juntar ao nosso grupo voluntariamente. Uma clériga pode ser útil contra mortos-vivos, pensei que já tinha pago essa matéria. Deixe seu ciúme um pouquinho de lado e...

— Ciumenta, Eu?! — Suanny explodiu. — Eu não tenho ciúme desse protótipo de gente com nome de duende! Se ela quer vir, pode vir... Assim aprende como uma mulher de verdade age! Agora, se ela nos atrapalhar vocês vão se ver comigo! Faça-a parar de chorar, Duende! E vamos logo que eu tenho contas a acertar com aquela bacante maldita!

Suanny saiu de dentro do aposento com as veias pulsando de tanto ódio. Sentia o corpo fervendo de raiva. Maldito meio-dragão. Janotas e Kildred entreolharam-se. Axel soltou-se de Mildred, que ainda fungava levemente e disse:

— Vamos indo, fique junto de Janotas e tome cuidado!

— Está certo. Obrigada. Lena há de abençoá-los. — disse Mildred humildemente.

Suanny estava parada próxima a uma outra porta, tentava sentir alguma presença sobrenatural. O corredor prosseguia mais adiante, fazendo uma curva para a esquerda. Os corpos de cobras já diminuíam gradativamente. Axel aproximou-se e perguntou:

— O que foi? Sentiu algo?

— Estou com medo de entrar aqui e encontrar outra garota indefesa e desprotegida.

— Suanny, pelo amor de Wynna! — falou Axel balançando a cabeça. — Éksis, sente alguma coisa por trás dessa porta?

O gato miou balançando a cabeça negativamente e aponta pra frente. Axel e Suanny olharam pro corredor. Janotas iluminou a porta, enquanto Kildred apenas observava o local. Mildred permaneceu no lugar, apreensiva. Que tipo de grupo de aventureiros era aquele?

— Eles seguiram adiante... — murmurou Axel.

— A porta está aberta, Duende. — falou Suanny apontando para a divisória da porta, que mostrava estar apenas encostada.

Axel abriu levemente a porta, revelando o que deveria ser uma cozinha e um refeitório. Várias mesas estavam dispostas pelo local e no canto inferior da sala, um caldeirão e várias caixas com comida. Muitos ratos infestavam o local, saindo de dentro da caixa de comidas. Sete ratos gigantes também estavam no refeitório e olharam pros aventureiros. Dois dos ratos gigantes deram um guinchado alto eriçando o pêlo.

— Olha só! — exclamou Janotas. — Só querem ser um demônio da Tormenta!

Mildred deu uma risada devido ao comentário cômico de Janotas. Suanny olhou com a cara amarrada pra Mildred, como um aviso de que caso não se calasse poderia perder a língua. Ignorando a iminente rixa, Axel fechou a porta e trancou a porta encravando uma pedra no chão, próximo à abertura. O grupo continuou em frente, dessa vez com Axel na frente, seguida de Suanny e Kildred. Janotas e Mildred vinham logo atrás. Após a curva o corredor prosseguia em frente. Após algum tempo, a lanterna de Janotas iluminou o que parecia ser uma saída, mas pegara em algo que refletia.

— O que será aquilo? — perguntou Kildred.

— Está ficando frio aqui... — murmurou Mildred levemente.

Saindo do corredor, o grupo deparou-se com um jardim. No meio do jardim havia uma fonte. Rodeando o jardim havia uma calçada com pilares com cobras esculpidas nelas. Duas árvores estavam plantadas no lado oposto do jardim. Moitas e arbustos estavam podados, exibindo desenhos de ofídios. Um grande buraco no teto, possivelmente natural permitia a visão do céu aberto. A lua acabava de sair de trás de uma nuvem, iluminando melhor o local. Uma imensa cobra estava no meio do jardim, próximo à fonte. Era uma versão gigantesca de uma cobra naja, devia ter o porte de uma sucuri. Cobras menores podiam ser vistas espalhadas pelo jardim. Todas, assim como tudo no jardim, congeladas.

— Por Lena! — exclamou Mildred. — O que houve aqui?

— Acho que nosso amiguinho com bafo de dragão branco passou por aqui. — falou Janotas. — Pelo menos deixou o caminho limpo. Wynna me livre de ter que enfrentar aquela naja gigante.

— De quem você está falando? — perguntou Mildred a Janotas.

— Se estiver com medo é só desistir! Ninguém vai lhe odiar por isso. — disse Suanny friamente adiantando-se pela calçada, onde o gelo era menor.

— Tomem cuidado. — disse Axel seguindo Suanny.

Kildred começou a seguir os dois pela calçada, junto à parede. Mildred foi logo em seguida, com Janotas por último. Havia outra porta no lado por onde eles prosseguiam. Mas estava congelada. Uma outra porta na parede do lado esquerdo estava congelada, mas com metade destruída. Era para lá que o grupo rumava.

— O que está havendo, Janotas? Quem fez isso? — perguntou Mildred.

— Há um outro grupo tentando pegar o mesmo artefato. Ele é composto por mortos-vivos. Uma vampira bacante, um heucuva e um cavaleiro da morte. Foi o último quem fez essa “congelante” surpresa aqui.

— Cavaleiro da morte? O que é isso? — perguntou Mildred.

— Quando um cavaleiro viola algum código, ele pode estar passível da punição divina após a morte. O castigo geralmente é torna-lo um Cavaleiro da Morte, condenado a cumprir uma missão ou preso a um lugar. Lembro de uma história envolvendo um lorde que virou um Cavaleiro da Morte, mas me parece que ele foi derrotado por aventureiros com uma espada encrenqueira chamada Slash Calliber.

— Ah... E um heucuva? Esse nome é familiar. — perguntou novamente Mildred.

— É a mesma condição de um Cavaleiro da Morte, só que em vez de ser um cavaleiro a quebrar um código, foi um clérigo. Geralmente o castigo é o mesmo, cumprir uma missão ou ficar preso a um lugar. — falou Janotas.

— Essa garota não se decide mesmo! — falou Suanny. — Já te trocou por outro, Duende. Só você mesmo pra se meter com esse tipo de gente.

— Suanny... — repreendeu Axel.

O grupo chegou até a porta destruída e entrou por ela. Era um escritório, com um pequeno altar, uma mesa e algumas cadeiras. Um tapete estava estendido pela sala e algumas esculturas de ofídios eram visíveis em cima de móveis. Por trás da mesa principal havia outra porta, menor. Um calafrio percorreu o corpo de Suanny, Axel e Kildred, que usavam uma camisa comum sob efeito da magia Calafrio. A magia causava um calafrio quando se aproximavam de mortos-vivos. Um barulho veio de trás da porta, como se algo tivesse batido contra a parede. Suanny empunhou a espada em posição de defesa, juntamente com Kildred. Janotas preparou o bastão. O silêncio voltou a tomar conta do local. Como nada aconteceu, Axel sussurrou:

— Vamos entrar! Kildred, você e Suanny vão à frente e abrem a porta. Janotas, prepare suas magias. Mildred, nós vamos precisar de suas magias de cura. Preparem-se! Vão!

Kildred e Suanny chutaram a porta e entraram no aposento. Era um quarto, com uma cama luxuosa e uma mesa. No exato momento, o aposento se encheu de poeira, pois a parede oposta desabou. O heucuva acabara de derrubá-la, revelando uma passagem secreta. Axel afastou a poeira com uma pequena rajada de vento criada com magia. Kerryne apenas acenou para Suanny, dizendo:

— Chegaram tarde, queridinhos!

— Malditos Helsen! Cuide deles, Uregran! — disse Sithloth, o Cavaleiro da Morte.

O heucuva, Uregran, rugiu como resposta e olhou pros caçadores. Sithloth entrou na passagem aberta, seguido por Kerryne. Uregran jogou a cama e a mesa na frente da passagem e se colocou entre os Helsen e a passagem secreta. Kildred avançou na direção do heucuva, seguido de Suanny. Quando as duas espadas tocaram o corpo de Uregran, abriram um corte em suas roupas, mas que pouco ferira o heucuva. Furioso, Uregran girou com os braços abertos, atingindo Suanny e Kildred. Suanny foi arremessada contra a parede e Kildred conseguiu esquivar-se por pouco. Esse pouco é o suficiente, para o jovem contra-atacar com um golpe com a sua espada katana. O golpe atingiu Uregran de forma certeira, mas o heucuva não demonstrou ficar muito machucado por causa disso. Antes que pudesse ser acertado por outro golpe, Kildred saltou para trás.

— Mas o que está havendo? Eu acertei o maldito duas vezes certeiro no flanco, era para pelo menos estar caído... Espera aí! Droga, esqueletos só levam dano massivo com ataques concussivos. Ataques cortantes e perfurantes não são muito eficientes...

Suanny estava desacordada, ela tinha batido com a cabeça. Axel vendo a situação dela, disse:

— Kildred toma conta aí da situação! Pega aí o meu bastão!

— Valeu, irmão! — falou Kildred pegando o bastão arremessado por Axel. Kildred deu um sorriso enquanto guardava a katana. — Agora sim, seu esqueleto mulambento! Agora nós vamos nos entender!

— Mildred, preciso de você! — falou Axel.

Mildred entrou no aposento dirigindo-se até o local onde Axel e Suanny estavam. O heucuva moveu-se, demonstrando que não ia deixar tão facilmente. Mas, Kildred colocou-se no caminho empunhando o bastão de Axel.

— Isso é madeira de Tollon, bonitinho! Agora você vai ver o que é bom!

— Cure-a, por favor. — pediu Axel. — A cabeça está com um corte.

— Está certo. — disse Mildred fechando os olhos e murmurando baixinho uma oração numa linguagem antiga.

A mão de Mildred começou a brilhar levemente e ela colocou-a sobre a testa de Suanny. Axel olhava apreensivamente, esquecendo da batalha. Kildred com o bastão avançou sobre o heucuva, tentando desferir um golpe certeiro. Uregran bloqueou o ataque com o braço e contra-atacou, mas Kildred esquivou-se novamente, contra-atacando com uma seqüência de golpes. Surpreso, Uregran tentou recuar, mas Kildred desferiu um golpe que lhe acertou a cabeça, transformando-a em pó. O corpo do heucuva caiu no chão e seus ossos viraram pó, ele já estava derrotado antes do “golpe final”.

Quando Suanny abriu os olhos, Axel e Mildred estavam ao seu lado, enquanto Kildred e Janotas removiam a mesa e a cama da frente do buraco. Havia passado pouco tempo, cerca de três minutos após o fim da luta de Kildred.

— O que houve? — perguntou Suanny.

— Você bateu com a cabeça, mas Mildred a curou. — falou Axel. — Fico feliz que esteja melhor, Suanny.

— Ora, isso não é hora pra isso! Onde estão aqueles malditos da Sociedade da Noite Eterna? — perguntou Suanny levantando-se.

Kildred e Janotas tinham acabado de derrubar a cama no chão e a abertura estava novamente exposta. Suanny caminhou em direção à entrada e disse, enérgica:

— Vamos logo! E... — voltando ao tom de voz normal. — Obrigada, Mildred.

— Nossa, ela disse um “Obrigada”! — sussurrou Janotas.

Kildred abafou a risada. Suanny entrou no túnel seguido de Axel, Kildred, Janotas e Mildred. Axel, com seu bastão já devolvido e com Éksis em seu ombro, adiantou-se pelo corredor. O corredor fora escavado irregularmente na rocha e apresentava certa umidade, demonstrando que pouco era usado. Teias de aranha podiam ser vistas nas bordas superiores e algumas abertas ao meio, que certamente ficaram no meio da passagem de Kerryne e o Cavaleiro da Morte. Janotas iluminava tudo com muito cuidado. Espalhados pelo chão estavam alguns corpos de cobras.

— A única coisa boa daqueles dois é o fato deles limparem nosso caminho. Olha só isso... — falou Janotas iluminando o corpo de uma cobra que se encontrava aberta ao meio.

— Silêncio, Janotas. — falou Kildred. — Temos que manter a atenção...

— Assim você vai ficar igualzinho a Suanny... — sussurrou Janotas.

— Assim você está baixando o nível, mago! — murmurou Kildred.

— Silêncios, os dois! — falou Suanny num tom ríspido.

Janotas deu um sorriso. O corredor terminava numa porta de ferro, que estava entreaberta. O interior da câmara demonstrava estar iluminado. Um calafrio percorreu novamente o corpo de Suanny, Kildred e Axel que se entreolharam. Já sabiam o que fazer. Suanny e Kildred aproximaram-se na frente, seguindo a mesma estratégia utilizada no escritório. Ouvia-se o tilintar leve de metal, como várias moedas se chocando. Quando Suanny e Kildred entraram silenciosamente através da abertura cedida pela porta, eles pararam surpresos. Axel, com Éksis em seu ombro, foi o próximo a entrar, juntamente com Janotas e Mildred. Quatro tochas na parede iluminavam diante deles uma pilha de moedas. Milhares de Tibares de ouro, junto com cetros, coroas e outros itens. Kerryne, a vampira bacante, colocava algumas moedas no bolso, enquanto Sithloth, o Cavaleiro da Morte, vasculhava um baú. Todos dois alheios à presença dos Helsen.

— Estamos ricos, Lorde Sithloth!

— Concentre-se em sua missão, bacante! — falou o Cavaleiro da Morte com frieza enquanto retirava uma pequena caixa do baú. — Acho que encontrei o cristal...

Sithloth abriu a caixa, revelando um cristal negro metálico que emanava uma pequena luz negra. Sithloth olhou com certo prazer aquele cristal, podia sentir o poder das Trevas forte nele. Os pontos vermelhos de Sithloth chegavam a brilhar com uma maior intensidade, num tom mais escuro. Só percebeu algo aproximando-se muito rapidamente quando era tarde demais. O cristal já havia sido pego de suas mãos. Sithloth olhou para seu ladrão e viu Éksis com o cristal em sua boca, em cima da pilha de moedas.

— Mas o que esse gato...? — balbuciou Sithloth com ódio na voz.

— São os Helsen! — exclamou Kerryne com um sorriso olhando pra porta.

— Não achou que ia se livrar tão fácil da gente, não é meretriz? — perguntou Suanny avançando contra Kerryne com a espada em punho.

— Maldito gato! — falou Sithloth abrindo a boca.

— Éksis, cuidado! — advertiu Axel.

Da boca de Sithloth a língua comprida saiu velozmente, estatelando nas moedas. Éksis saltara para a direita, esquivando-se. Aproveitando que Sithloth estava recolhendo sua língua, Éksis correu até Axel, dando-lhe a pedra. Quando Lorde Sithloth olhou para Axel, ele estava com a mão flamejante e jogava algo derretido no chão. Axel olhou para Sithloth e disse com firmeza:

— Antes destruído, que nas mãos erradas!

— Maldito! Vai pagar por isso! — Sithloth puxou a espada.

— Veremos! — disse Axel puxando o bastão.

Kildred fez menção de adiantar-se também, mas a câmara subterrânea começou a tremer e da pilha de moedas saiu uma enorme cobra com cabeça humana, e presas pontiagudas. Suanny e Kerryne pararam de lutar por alguns instantes, mas quando a surpresa passou, se entreolharam e Suanny atacou Kerryne, que criara garras em suas mãos. Axel fitou o monstro que acabara de surgir e Sithloth aproveitou a distração do meio-dragão para atacá-lo. Axel esquivou-se do golpe por pouco. Éksis estava no colo de Mildred, que observava terrificada a situação. Kildred e Janotas se entreolharam. Kildred sorriu e disse:

— Esse é meu!

Kildred avançou em direção ao monstro. Janotas pôs a mão no queixo e disse:

— Eu deveria ter chegado a essa conclusão antes... Isso é um tesouro sszzaazita. Não há tesouros sem guardiões e os mais comuns guardiões de tesouros sszzaazitas são nagas. Cobras constritoras com cabeças humanas... — Ele olhou para Mildred, como se estivesse esclarecendo alguma dúvida dela.

— Ahnn... — falou Mildred abraçando Éksis. — Você não vai ajuda-los?

— Não posso. Estou sem energia mágica, só posso contar com Sally meu bastão. Mas ela só consegue lançar magias de baixo nível. Praticamente Truques.

— Eu posso tentar usar uma magia de cura... A deusa Lena dá esse dom a todas as servas dela. — disse Mildred estendendo a mão para tocar em Janotas.

Sithloth desferiu um golpe em Axel, que tentou se esquivar, sendo acertado no ombro. Axel revidou com um golpe certeiro de seu bastão no peito de Sithloth. Suanny conseguiu acertar um golpe forte em Kerryne, rasgando-lhe a barriga. Kerryne olhou surpresa para Suanny, rosnando ao ver o ferimento. O ferimento cicatrizou-se como sob efeito de uma magia de cura, era a regeneração vampírica em ação.

— Maldita, era minha roupa favorita! — gritou Kerryne.

— Teve sorte de não ter sido sua cara! — ameaçou Suanny.

— Experimenta, orelhuda!

Kerryne avançou em Suanny velozmente, mal dando tempo dela bloquear o ataque. Embora tenha conseguido bloquear, ela não pôde impedir um murro no seu estômago, jogando-a longe pelo chão. Kerryne saltou, quase num vôo, caindo por cima de Suanny. A meio-elfa empurrou-a com os pés num golpe de artes marciais, mas a vampira deu um mortal e caiu em pé. Seus olhos estavam rubros, como os da meio-elfa só que num tom brilhante. Suanny levantou-se num salto com as pernas e foi em direção a vampira.

Kildred desviava dos ataques da cauda da naga, utilizada como chicote no combate. A cada desviada, ele tentava contra-atacar rapidamente com um golpe de sua espada katana. Os golpes mal cortavam a áspera pele do ofídio. Axel bloqueou um ataque de espada, feito de forma vertical por Lorde Sithloth. O jovem feiticeiro já apresentava alguns cortes em seu corpo e o cavaleiro-morto estava com a armadura amassada. Axel contra-atacava Sithloth que bloqueava o ataque com sua espada, enquanto Sithloth atacava com a espada e Axel bloqueava com seu bastão. A luta tomara um ritmo frenético e os dois já ofegavam bastante.

Mais frenético que a luta deles estava a de Kerryne e Suanny. As duas lutavam com toda a força e ódio, embora a vampira estivesse ganhando algumas vantagens graças aos seus poderes. Kerryne atacava Suanny com suas garras, que eram bloqueadas pela espada de Suanny, enquanto esquivava-se dos ataques da meia-elfa. Suanny já tinha o corpo cheio de marcas de garras e Kerryne, embora não apresentasse nenhuma marca, tinha sua roupa rasgada mostrando a eficiência dos ataques da caçadora. Em determinado momento, Suanny recuou para trás e esbarrou em Axel, que também parara para respirar um pouco.

— Tem alguma estratégia brilhante, Duende? — perguntou Suanny. — Estamos com certa desvantagem aqui.

— No momento só me lembro das suas estratégias de partir pra cima.

— Aarghhhhh... — gemeu Kildred.

Kildred havia sido enrolado pelo corpo da naga que começava a apertar o seu “abraço”, visando esmagar os ossos do jovem. Um projétil de fogo atingiu a cabeça da naga, atordoando-a. Janotas agitou seu cajado, estava de volta à ativa. Isso relaxou os músculos da naga, libertando parcialmente Kildred, que escapou do ataque constritivo da naga. Ao cair na pilha de moedas, ele caiu exausto com o corpo todo dolorido. Recuperada, a naga avançou com a cabeça sobre Kildred, visando mordê-lo.

Suanny e Axel levaram um ataque conjunto dos dois mortos-vivos que os jogou contra a porta. Axel, ainda caído no chão, ergueu as mãos e atirou um projétil de fogo nos dois. Lorde Sithloth esquivou-se do ataque, mas Kerryne foi pega. Aquele ataque era o que faltava para esgotá-la. A vampira caiu por cima da pilha de moedas, debilitada. Consciente ainda, mas totalmente fadigada. Mal conseguia mexer-se. A meio-elfa se encontrava no mesmo estado, encostada à porta. Ela tentava se levantar, mas estava sem forças. Sithloth sorriu maquiavelicamente e avançou em direção ao caído Axel e à caída Suanny.

— Vai pagar por ter destruído o cristal de Tenebra, caçador!

O chão abaixo de Lorde Sithloth ficou escorregadio enquanto ele caminhava, fazendo-o cair. O chão estava sob efeito da magia Terreno Escorregadio de Neo. Um jato de água criado com Ataque Mágico o jogou contra a pilha de moedas. Janotas voltara com força máxima para o combate. Ele olhou para Mildred e disse:

— Rápido, vai lá e capricha nas magias de cura! Ah! Cura o Axel primeiro, tá. Deixa a estressada por última.

— Certo.

Mildred correu em direção a Axel e Suanny, pondo a mão na testa de Axel e iniciando uma oração. Lorde Sithloth estava sendo “distraído” por Janotas que lançava magias de nível fraco utilizando a energia do bastão. Kildred esquivou-se rapidamente, rolando pelo chão. Mas a mordida da naga abocanhara alguma coisa, pois ela estava com algo em sua boca. Kildred arregalou os olhos quando viu na boca da naga o saco onde estavam as bolas de Erupção de Aleph inventadas por Hugho, o goblin engenhoqueiro da Sociedade Helsen. Lorde Sithloth atacou Janotas com a língua. Janotas esquivou-se, mas caiu no chão. Axel acabara de se levantar e Suanny estava sendo curada por Mildred. Lorde Sithloth olhara com rancor àquela cena.

— Um sopro gélido, Sithloth! Use um sopro gélido! — falou Kerryne, sem forças.

— Oh, não... — balbuciou Axel. Aquilo mataria a Mildred, Janotas e Suanny.

— Janotas! — gritou Kildred. — Uma bola de fogo na cabeça da naga! E é pra ontem! Ela está com as bolas engenhocas de Hugho na boca!

Janotas acabara de se levantar. Kildred corria em direção aos amigos, próximos a porta. Janotas estendeu o bastão e começou a murmurar algumas palavras, ia usar o restante de sua energia mágica naquele projétil de fogo feito com Ataque Mágico. Axel, ouvindo o aviso também, estendeu a mão e atirou um projétil de fogo com Ataque Mágico. Os dois projéteis acertaram simultaneamente a cabeça da naga, que caiu no chão. O saco da invenção de Hugho entrou em chamas. Kildred passou correndo e abriu a porta.

— O que está fazendo, infante? — perguntou Suanny levantando-se.

— Não viu que...

— Sim, eu vi. Só que você, Duende e o aprendiz ali esqueceram que precisam de Terra pra haver efeito? Essa balbúrdia toda foi à toa, não adiantou de nada! Machos... — exclamou Suanny.

— Eu estava com medo de não encontrar areia, por isso enchi o saco todinho com areia antes de sairmos da sede.

— O quê?! — exclamou Suanny.

— O que é aquilo? — perguntou Mildred.

O saco estava com um tom vermelho brilhante, como se fosse explodir. Lorde Sithloth abriu a boca, inspirando ar para atirar um sopro gélido no grupo. Mais rápido do que podiam, o grupo começou a correr em disparada pelo corredor. O sopro gélido veio logo em seguida, atingindo poucos metros do corredor. Somente o vento frio chegou ao grupo. Lorde Sithloth disse, com um tom arrogante na voz:

— Covardes!

— Por Tenebra! — exclamou Kerryne vendo o saco incandescente.

O grupo saiu do corredor subterrâneo, atravessando o quarto e o escritório do sarcedote-chefe do templo sszzaazita. Ao saírem no jardim, eles viram o gelo da parede sul, à esquerda deles, derretendo com a rocha incandescente. Janotas ia começar a atravessar o jardim, quando Kildred o segurou.

— O que foi? — perguntou Janotas.

— Vamos escalando. — falou Kildred apontando pra Suanny.

Suanny começava a escalar pela parede, levando consigo um lençol comprido retirado da cama do sacerdote-chefe do templo. Ao chegar no topo, Suanny viu que estava de volta a um monte nas Montanhas de Teldiskan. Podia ver o topo do templo sszzaazita por cima da copa das árvores, com duas esculturas de serpentes gigantes nas duas extremidades do mesmo. Suanny amarrou o lençol no galho de uma árvore e o jogou no buraco. Axel acabara de subir da forma convencional, sem o lençol. Podia-se ver o chão ficando vermelho incandescente mais à frente. Axel e Suanny puxaram o lençol, ajudando Mildred a subir mais rapidamente. O próximo foi Janotas. Kildred já estava vendo as serpentes ganhando vida e a parede da esquerda borbulhando como um líquido, quando o lençol caiu pra ele. A serpente gigante, que acabara de sair de seu estado de inanição, viu Kildred escalando a parede e dirigiu-se até ele. O bote atingiu apenas a parede. Kildred havia sido puxado pelos amigos a tempo.

— O chão está rachando! — exclamou Janotas.

— Isso vai explodir, vamos sair daqui! — falou Axel.

O chão começou a borbulhar, soltando pequenas gotas de lava. A terra estava fervendo, como um vulcão preste a entrar em erupção. O grupo correu através das árvores, tentando sair daquele bosque. O bosque ficava situado sobre um monte próximo às Montanhas de Teldiskan. O coração parecia que não ia agüentar e o suor escorria como água, o chão estava fervendo. Os cinco corriam desesperadamente, tentando salvar suas vidas. Éksis se enfiara dentro da camisa de Axel para não cair.

A torre de fogo subiu alto, como se quisesse alcançar os céus. A terra tremia e lava escorria por todo o monte. O monte, do templo sszzaazita, de bosque passou a um temporário vulcão. A lava queimava toda a vegetação presente no monte. Já a uma distância segura, os Helsen e Mildred apenas observavam aquele espetáculo assustador.

— Melhor irmos andando, antes que a lava chegue até nós. — falou Axel, ofegante.

— Concordo. — disse Janotas sem fôlego olhando pra Kildred que só levantou a mão de forma assertiva enquanto tentava recuperar-se.

— Vou com vocês até Valkaria. De lá tentarei entrar em contato com o templo do qual faço parte. Eles precisam saber o que houve com a caravana... Obrigada por tudo mesmo. Muito obrigada, meus heróis. — disse Mildred dando um beijo no rosto de Axel, que ficou todo vermelho.

— Ei, porque só nele? — reclamou Janotas.

— Tudo bem. Obrigada. — falou Mildred sorrindo e dando um beijo no rosto de Janotas, que não escondia a satisfação.

— Hunf! — bufou Suanny.

Axel sorriu com a atitude de Suanny, ela não queria criticar Mildred, pois esta ajudara bastante o grupo.

— Missão cumprida, não é Suanny? — perguntou Axel.

— Não totalmente.

— Por que não? — perguntou Axel, tirando Éksis de dentro de sua camisa.

— Porque não conseguimos pegar o Cristal de Tenebra. Mas devo admitir que você foi corajoso, Duende. Muitos hesitariam covardemente em destruir aquele artefato. — falou Suanny olhando pro horizonte tentando mostrar uma indiferença à situação.

— E quem disse que não conseguimos? — Axel enfiou a mão no bolso e tirou um cristal negro que emanava uma fraca luz negra.

— Mas... E...? — balbuciou Suanny.

— Eu queimei um globo de vidro que estava naquela pilha de tesouros. — falou Axel guardando o cristal novamente.

— Eu devia ter imaginado, você não tem mesmo coragem para destruí-lo. — falou Suanny com um tom de voz sério, tentando disfarçar o orgulho que sentia naquele momento de Axel.

— Você não tem jeito mesmo, né? — perguntou Axel em tom irônico.

Suanny olhou pra ele pelo canto do olho e sorriu com o canto da boca. Axel voltou a olhar para frente, estavam chegando a uma estrada. Mais alguns dias e estariam em Valkaria. Janotas e Kildred começaram a entoar uma canção feita por um hobbit em tempos antigos. E enquanto a lua descia em direção ao oeste, a canção ecoava pela noite naquela estrada...

♪♫♪ “A estrada em frente vai seguindo, deixando a porta onde começa. Agora longe já vai indo, devo seguir e que nada me impeça. Em seu encalço vão os meus pés, até a junção com a longa estrada. De muitas sendas através, que vem depois? Não sei mais nada...” ♫♪♫


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Sagitário Cachorro
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